George Stevens foi um homem que lutou muito pela sua classe,
acreditava que a função de um diretor não deveria se resumir a apenas um
comandante de imagens e sim um criador com responsabilidade criativa total e irrestrita.
Não gostava dos colegas que se faziam notar demais em suas obras, preferia que
seus filmes tivessem qualidade e fossem vistos não por serem “filmes de George
Stevens” e sim, por serem produtos extremamente bem feitos.
Quando teve a ideia de fazer “Um Lugar ao Sol” (A
Place in the Sun – 1951), encontrou enorme resistência dos produtores da
Paramount, que o questionavam sobre refazer uma obra que já havia sido um
fracasso de público e crítica, décadas antes. Qualquer diretor em sua
posição, ainda mais estando sem filmar a dois anos, iria desistir e realizar
uma obra qualquer, porém Stevens lutou e fez sua vontade ser obedecida. A
história provou que ele tomou a decisão correta.
Em 1965, quando o filme iria começar a ser exibido na
televisão americana, com a usual inclusão de intervalos comerciais e prováveis
pequenos cortes para que a obra coubesse no espaço da rede. Stevens considerava
os intervalos um erro e lutou para que o filme não entrasse no ar, pois
acreditava que os intervalos comerciais iriam criar uma distorcida, truncada e
segmentada versão de sua obra. Não apenas comprou esta briga, como processou a
Paramount e a rede NBC, com o honesto argumento de que ao ser contratado,
haviam garantido a ele total controle sobre editar e cortar o produto. Logo,
devia impedir que outros o fizessem por motivos puramente comerciais e sem
nenhuma base criativa ou ideológica. Ele pensava em sua classe e na dignidade e
respeito que todo diretor deveria receber dos estúdios.
Ele perdeu o processo, porém todos os seus colegas
sentiram-se tão emocionados com sua conduta que no momento em que Stevens,
pressionado pelos produtores por causa do alto investimento e lentidão na
condução, precisou de ajuda para completar seu trabalho no épico bíblico “A
Maior História de Todos os Tempos” (The Greatest Story Ever Told – 1965),
diretores como Jean Negulesco e David Lean se propuseram a dirigir enormes
sequências para o filme, sem levarem crédito ou dinheiro, apenas para ajudarem
o colega.
Quando a Segunda Guerra Mundial estava em seu auge, após
assistir um documentário sobre Adolf Hitler, Stevens largou o mundo do cinema e
decidiu se alistar, sendo o homem responsável pelas melhores gravações,
filmando momentos cruciais como o desembarque do exército aliado nas praias da
Normandia e a libertação dos prisioneiros judeus do campo de concentração de
Dachau. Até aquele momento seu melhor filme havia sido “Ritmo Louco” (Swing
Time – 1936), que considero a melhor parceria de
Fred Astaire e Ginger Rogers. Após receber o Oscar de direção por “Um Lugar ao
Sol”, criou a obra prima do Western: “Os Brutos Também Amam” (Shane –
1953) e o monumental “Assim Caminha a Humanidade” (Giant – 1956),
com Rock Hudson, Elizabeth Taylor e James Dean, que lhe garantiu um novo e
merecido Oscar de direção.
Morreu vítima de ataque cardíaco em 1975, porém sua
contribuição para o cinema é inestimável. Cada diretor que trabalha atualmente
com um mínimo de liberdade autoral deve agradecer ao empenho visceral de George
Stevens no passado e esforçar-se em produzir sempre filmes melhores, honrando
seu legado.
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