Noites de Cabíria (Le Notti di Cabiria – 1957)
Caso você já tenha alguma vez sofrido uma rejeição amorosa,
você entenderá Cabíria. Caso alguma vez tenha olhado para dentro de si e
sentido um arrepio na coluna, enquanto percebe o deboche alheio, sentindo que o
mundo parece sorrir a cada lágrima que desce em seu rosto, fazendo-o desejar
chorar apenas para admirar a beleza do sorriso naqueles que lhe escarnizam,
você entenderá Cabíria. Ela representa a busca incessante pelo amor nos outros,
pelo sorriso de aprovação que muitas vezes não conforta tanto quanto deveria,
por um entendimento tácito entre o coração e a razão. Cabíria é aquela flor que
rompe o asfalto, desafiando todas as probabilidades, somente para aquecer-se ao
calor do sol. Federico Fellini é o maestro que habilmente conduz esta sinfonia,
esta ode ao amor não retribuído, com batutas envernizadas pela sua experiência
de vida.
Sua amada Giulietta Masina vive esta prostituta que consegue
encontrar esperança mesmo após as maiores desilusões, acostumada ao som e fúria
de uma sociedade hipócrita, que a discrimina por fazer público algo que muitos
reservam aos recônditos de suas consciências. Uma alma que caminha pela noite
italiana exibindo sem pudor sua intensa fragilidade, como que ingenuamente
aguardando um cafuné que ninguém lhe reserva. Emocionante é a cena em que ela
pega a mão de um homem e a conduz ao rosto, acarinhando-se com a mão alheia, como
que se lhe bastasse este simples gesto para sentir-se humana.
A confiança que se revela em seu olhar na brilhante cena
final, mesmo sabendo que o mundo à sua volta não irá se modificar, tampouco a
forma como a sociedade lida com sua incômoda presença, simboliza a mensagem que
Fellini nos intenciona passar com esta linda obra: “A única coisa que
poderei oferecer a meus personagens, sempre tão infelizes, será minha
solidariedade: assim poderei, por exemplo, dizer a um deles: escuta, não posso
lhe explicar o que não sei, mas em todo caso, amo-te o suficiente e te ofereço
uma serenata”.
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