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Splash – Uma Sereia em Minha Vida (Splash – 1984)
Allen Bauer, um rapaz decepcionado com a vida amorosa,
depois de sofrer um acidente em alto mar é salvo por Daryl Hannah. Ela é tudo o
que ele sempre quis na vida. Ela também. O par perfeito. Ou melhor, seria, se
ela não fosse uma sereia.
Já comentei diversas vezes sobre o carinho que nutria por
John Candy na infância, ele era um dos meus atores favoritos, um amigo que
reencontrava em variados personagens, mas sempre com aquele jeitão boa praça.
Esse foi um dos filmes responsáveis por esse carinho. Meu primeiro contato não
foi pela “Sessão da Tarde”, meu pai tinha o filme gravado em VHS, mas as
frequentes exibições vespertinas eram sempre uma garantia de diversão, um porto
seguro. É difícil explicar, mas pra minha geração, encontrar no susto um filme
querido sendo exibido na televisão, dava uma alegria tremenda, sorriso largo,
enquanto esperávamos dar o comercial, pra ir até a cozinha e preparar o
acompanhamento perfeito: refrigerante e biscoitos.
Eu passei boa parte da minha pré-adolescência apaixonado
pela Daryl Hannah, a sereia mais adorável do cinema, capaz de presentear seu
namorado com a fonte da praça da cidade. Tom Hanks, na fase mais despretensiosa
de sua carreira, auxiliado por Candy e o hilário Eugene Levy, que ficou mais
conhecido, anos depois, como o pai do protagonista de “American Pie”, um trio
que compensa qualquer problema com um carisma imbatível. É perceptível a luta
deles para manter a seriedade em algumas cenas, como a do resgate da sereia no
terceiro ato, onde Candy, fingindo ser um médico estrangeiro, improvisa o seu
melhor sueco. E como não simpatizar com um personagem que é mostrado, quando
criança, jogando moedas no chão pra conseguir ver as calcinhas das meninas? Um
verdadeiro traquina, no linguajar dos antigos da era pré-internet. O contraste
entre a inocência da jovem que descobre um mundo novo e o olhar cansado do
workaholic, um ponto que o ótimo roteiro sempre busca evidenciar, engrandece o
que poderia ser apenas um projeto infanto-juvenil bem-intencionado.
O diretor Ron Howard, especialista em reforçar a mão do
verniz de ternura em suas obras, encontrou nessa trama um veículo perfeito. Eu me
sentia muito desconfortável na sequência que conduzia para a revelação, a prova
da eficiência na construção e no tom da cena, o momento em que o personagem de
Levy consegue finalmente jogar água na Madison, que acaba sendo levada para um
aquário gigante. No VHS, era o momento em que eu, ainda criança, decidia parar
a fita e ver o que estava passando na televisão, ou, na maior parte das vezes,
avançava para o final da história. Era uma sensação angustiante parecida com a
que eu sentia quando estava de noite, a luz desligada no quarto, e passava
aquela soturna mensagem de Jesus nos intervalos do SBT, “Paz, amor, fé,
esperança, luz e união não são apenas palavras...”, trauma para o resto da
vida.
Até hoje considero “Splash” uma das melhores comédias
românticas do cinema, todos os ingredientes funcionam. O único problema é que
deve ter havido uma alta incidência de casos de meninos pulando de barcos em
alto mar, na vã esperança de serem resgatados por uma sereia, como o pequeno
Allen. É compreensível.
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