Clube dos Cinco (The Breakfast Club – 1985)
Eu me emociono sempre que penso nesse filme, não somente
pela nostalgia gostosa que me remete às exibições na “Sessão da Tarde” em minha
adolescência, motivo que o insere nesse especial. É como se eu tivesse
compartilhado aquele Sábado com os alunos, introvertido e tentando entender
porque os outros debochavam de mim. O bullying era uma constante no período, de
uma gengiva perfurada em um bebedouro por um soco forte na cabeça, passando
pelos usuais empurrões nos corredores, até a humilhação verbal constante, o que
mais afeta o psicológico, destruindo gradativamente a autoestima.
Quando
conheci o filme, enxerguei meu reflexo no personagem do Anthony Michael Hall, o
tímido Brian, o garoto magricela que tentava apenas sobreviver dia após dia. E,
ao contrário dele, eu não tirava sempre ótimas notas, apenas nas matérias que
me interessavam. Em exatas eu sempre fui mediano. Mas o fato de ser elogiado
pelas professoras pela minha educação e pelas redações incomodavam vários
colegas. Nas provas, era comum eu utilizar a parte de trás da folha para
aprofundar os argumentos, ou, no caso das redações, enriquecer as histórias. O
meu interesse não estava nas notas, mas, sim, nos pequenos textos que as
professoras escreveriam ao lado delas.
John Hughes, que sabia como ninguém compreender a realidade complicada
dos adolescentes, trabalhou os estereótipos mais comuns no filme. Brian, ao
final do dia, acaba sendo nomeado pelos colegas como o responsável pela
redação, pois era o único capaz de elaborar uma resposta crítica forte, porém,
elegante. Sem a ousadia inconsequente do delinquente, vivido pelo Judd Nelson,
o grupo não teria coragem de cogitar aquela resposta. O delinquente descobre
que o introvertido sofre tanto quanto ele, a diferença é que um extravasa na
rua os abusos que sofre em casa, enquanto o outro carrega para o convívio
familiar cicatrizes psicológicas dos abusos que sofre na rua. Duas faces da
mesma moeda.
A garota popular, vivida por Molly Ringwald, descobre nesse
convívio forçado que esconde suas frustrações com o tom alto de seus discursos,
enquanto a menina esquisita, vivida por Ally Sheedy, mantém o tom existencial
sempre sussurrante, como forma de se esconder, ficando fora do radar dos moldes
impostos pela sociedade. As duas compartilham em segredo altas doses de medo e
insegurança, assim como o esportista vivido por Emilio Estevez, sofrendo
extrema pressão dos pais que não admitem um perdedor na família. Ao entender
que os resultados do time definem sua importância no seio familiar, o rapaz
inveja a coragem do delinquente e a capacidade de internalizar os medos do
introvertido, que sorri buscando aceitação, enquanto por dentro corta os pulsos.
Ao contrário do que os cinco pensavam no início do dia, eles
não eram diferentes, e, mais que isso, eles entenderam que poderiam conquistar
qualquer objetivo caso trabalhassem em equipe. Os traços de comportamento que
outrora os separavam eram exatamente as armas únicas que cada um poderia agregar
nesse “Clube do Café da Manhã”, os elementos que os tornavam fortes. Unidos,
eles conseguiriam vencer todos os obstáculos da jornada adolescente.
“Quando você
se torna adulto, seu coração morre”. A frase, dita no filme pela menina
esquisita, resume uma grande verdade: grande parte dos adultos desiste de seus
sonhos, deixa os interesses individuais morrerem, abraçando as convenções da
sociedade, os rituais executados para a satisfação dos outros. E esses adultos,
já desencantados com a vida, não aceitam encarar o brilho nos olhos dos jovens.
Hughes, num toque de gênio, opta iniciar o filme com um trecho da canção “Changes”,
de David Bowie, que afirma: “E as crianças em que você cospe, enquanto tentam
mudar os mundos deles, são imunes às suas consultas, eles estão perfeitamente
conscientes do que estão atravessando”. De certa forma, com esse roteiro, o diretor também critica os adultos responsáveis pela visão limitada e caricatural dos adolescentes na indústria de cinema da época, quase sempre reduzidos a tolos que só pensam em sexo, atrevidas animadoras de torcida e nerds que só servem como alívio cômico.
O coordenador Vernon, vivido por Paul Gleason, desencantado com
sua rotina e emocionalmente imaturo, incapaz de demonstrar empatia, propôs o
castigo e acabou sendo o indivíduo que aprendeu a maior lição.
Brian: "Caro Sr. Vernon, aceitamos o fato de que
nós tivemos que sacrificar um sábado inteiro na detenção, pelo que fizemos de
errado... Mas acho que você está louco por nos fazer escrever um texto dizendo
o que nós pensamos de nós mesmos. Você nos enxerga como você deseja nos
enxergar, nos termos mais simples e com as definições mais convenientes. Mas o
que descobrimos é que cada um de nós é um cérebro..."
Andrew: "... um atleta ..."
Allison: "... um caso perdido ..."
Claire: "... uma princesa ..."
John: "... e um criminoso ..."
Brian: "Isso responde a sua pergunta? Sinceramente, o Clube dos
Cinco."
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