Quando Chega a Escuridão (Near Dark – 1987)
São resgates como esse que demonstram a importância de uma
distribuidora como a Versátil no mercado. Uma obra independente, misto de
faroeste e terror, pouco vista no ano de sua estreia, eclipsada por “Os Garotos
Perdidos”, lançado na mesma época, que tratava o tema com pouco requinte, mas
que ganhou popularidade no Brasil com suas frequentes exibições na “Sessão da
Tarde”. “Quando Chega a Escuridão” não passaria na programação televisiva
vespertina de outrora, muito menos na de hoje, a sua trama vampiresca evoca
conflitos emocionais adultos, o peso de uma imortalidade que gradativamente
promove o desapego a todas as convenções morais e éticas, com uma fotografia sombria,
de Adam Greenberg, que dialoga perfeitamente com essa constatação.
A diretora Kathryn Bigelow, também responsável pelo roteiro,
em parceria com Eric Red, já demonstrou em seu primeiro trabalho uma ousadia inconsequente,
elemento que deveria ser fundamental no cinema de gênero, inserindo um
personagem que se tornou vampiro ainda criança, tendo envelhecido, porém,
mantendo a mesma aparência infantil. É impressionante também constatar que os
efeitos visuais não envelheceram, continuam muito eficientes. Gosto da atitude corajosa
da trama, com personagens vivendo em um ambiente onde, aparentemente, nunca
existiu qualquer menção ao mito do vampiro, facilitando assim a adaptação de
suas convenções, descartando totalmente as referências góticas, como o
crucifixo e a estaca de madeira. Essa opção também potencializa a analogia da
maldição com o vício em drogas, reforçado pela subtrama que mostra um dos
personagens conseguindo reverter sua condição ao ser estimulado pelo amor de
sua família.
É muito sensual a forma como o roteiro trabalha a relação
entre a bela Mae (Jenny Wright) e o fazendeiro Caleb (Adrian Pasdar), com cenas
onde o rapaz, incapaz de matar para satisfazer sua necessidade por sangue, bebe
diretamente de um corte no pulso da mulher amada. Ele alterna a sensação
viciante de poder ilimitado com o medo do descontrole, uma abordagem pouco
comum em filmes similares. Quando analisamos a infantilização do tema no cinema
recente, dá muita saudade da época em que os vampiros não agiam como
personagens da série “Hannah Montana”. Lance Henriksen, vivendo o cruel líder
do grupo, com uma aparência cadavérica e longas unhas, que nos remetem ao Max
Schrek do “Nosferatu” de Murnau. Mas o destaque é Bill Paxton, quase sempre
relegado à imagem de coadjuvante exótico, dominando cada cena em que aparece
como o alucinado Severen, com destaque para a fantástica sequência no bar, que
vira um matadouro para o grupo.
* O filme está sendo lançado em DVD, pela distribuidora "Versátil", na caixa "Vampiros no Cinema", contendo ainda, além de ótimos documentários, os filmes: "Nosferatu" (Murnau), "Cronos" (Guillermo del Toro) e "A Noite dos Demônios" (Ferroni).
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