quinta-feira, 30 de julho de 2015

"Branco Sai, Preto Fica", de Adirley Queirós


Branco Sai, Preto Fica (2014)
Analisando historicamente, o cinema nacional sempre gostou de culpar a escassez de recursos pela escassez de criatividade e ousadia. A areia da praia pode ser o solo de Marte, caso o cineasta tenha imaginação. É revigorante encontrar um filme como “Branco Sai, Preto Fica”, que busca, em teoria, entreter o público ao se utilizar de convenções de uma obra de gênero escapista e, enquanto documentário, expor a cicatriz aberta do racismo na nossa sociedade, utilizando como gatilho o caso ocorrido na década de oitenta, quando policiais invadiram um baile black na Ceilândia gritando: “branco sai, preto fica”.

O grave problema é que a condução peca em sua exagerada morosidade. Vários minutos são investidos em silenciosos momentos triviais, dando a impressão de que a intenção era estender a obra para além do que poderia ser um interessante curta-metragem. A importante curiosidade que nasce ao ler a sinopse se esvai antes do segundo ato, quando percebemos frustrados que a melhor ideia, o elemento diferencial da inserção do investigador do futuro é tratado de forma amadoristicamente despojada, sem um mínimo de cuidado técnico. É genial a utilização de um contêiner como máquina do tempo, algo que fala diretamente à utilização inteligente dos poucos recursos, ou a ambientação em uma sociedade dominada por religiosos, porém, são detalhes pouco trabalhados, o experimentalismo chato domina impiedosamente. O foco está em assistir os dois protagonistas, Marquim do Tropa e Shockito, vítimas da violência policial no baile, pelo maior tempo possível, em seus afazeres cotidianos. Quando um personagem, uma incógnita para o público, como todos os outros, passa o tempo entoando uma canção, tenha certeza de que ele irá cantá-la do início ao fim, sem motivo algum.

E o pior, não há nem insinuação de uma contextualização histórica, quem não conhecia o caso, continuará sem se importar com ele, já que o roteiro, que critica a exclusão social, parece rejeitar de propósito o conceito de acessibilidade em sua execução. É obra umbilical arrastada, repetitiva, daquelas que justificam os estereótipos de quem debocha dos “filmes de arte”, tendo sido celebrada mais por sua temática do que pelo produto final. Uma pena, já que o diretor Adirley Queirós tinha um conceito maravilhoso em mãos. 

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