Branco Sai, Preto Fica (2014)
Analisando historicamente, o cinema nacional sempre gostou
de culpar a escassez de recursos pela escassez de criatividade e ousadia. A
areia da praia pode ser o solo de Marte, caso o cineasta tenha imaginação. É
revigorante encontrar um filme como “Branco Sai, Preto Fica”, que busca, em
teoria, entreter o público ao se utilizar de convenções de uma obra de gênero
escapista e, enquanto documentário, expor a cicatriz aberta do racismo na nossa
sociedade, utilizando como gatilho o caso ocorrido na década de oitenta, quando
policiais invadiram um baile black na Ceilândia gritando: “branco sai, preto
fica”.
O grave problema é que a condução peca em sua exagerada
morosidade. Vários minutos são investidos em silenciosos momentos triviais,
dando a impressão de que a intenção era estender a obra para além do que
poderia ser um interessante curta-metragem. A importante curiosidade que nasce
ao ler a sinopse se esvai antes do segundo ato, quando percebemos frustrados que
a melhor ideia, o elemento diferencial da inserção do investigador do futuro é
tratado de forma amadoristicamente despojada, sem um mínimo de cuidado técnico.
É genial a utilização de um contêiner como máquina do tempo, algo que fala
diretamente à utilização inteligente dos poucos recursos, ou a ambientação em
uma sociedade dominada por religiosos, porém, são detalhes pouco trabalhados, o
experimentalismo chato domina impiedosamente. O foco está em assistir os dois
protagonistas, Marquim do Tropa e Shockito, vítimas da violência policial no
baile, pelo maior tempo possível, em seus afazeres cotidianos. Quando um
personagem, uma incógnita para o público, como todos os outros, passa o tempo
entoando uma canção, tenha certeza de que ele irá cantá-la do início ao fim,
sem motivo algum.
E o pior, não há nem insinuação de uma contextualização
histórica, quem não conhecia o caso, continuará sem se importar com ele, já que
o roteiro, que critica a exclusão social, parece rejeitar de propósito o
conceito de acessibilidade em sua execução. É obra umbilical arrastada, repetitiva,
daquelas que justificam os estereótipos de quem debocha dos “filmes de arte”, tendo
sido celebrada mais por sua temática do que pelo produto final. Uma pena, já
que o diretor Adirley Queirós tinha um conceito maravilhoso em mãos.
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