Tudo por Justiça (Out of The Furnace – 2013)
O diretor Scott Cooper, em seu segundo projeto, tem
facilidade de extrair interpretações viscerais de seus atores. Conseguiu isso
com Jeff Bridges no anterior “Coração Louco”, repete o feito com Woody
Harrelson (Harlan) e Christian Bale (Russel), que definitivamente deveria ter
sido indicado ao Oscar por esse trabalho. Revelar muito sobre a trama nesse
caso é um desserviço ao espectador, então irei me ater ao básico.
Sem se preocupar em obedecer as regras estruturais do gênero, o roteiro, de
Brad Ingelsby e do próprio Cooper, toma bastante tempo no desenvolvimento da
relação do protagonista com seu irmão caçula problemático, vivido por Casey
Affleck. O cenário é uma depressiva cidade de interior, cujos habitantes
sofridos não compram a ideologia esperançosa de um recém-eleito Barack Obama, o
filme se passa em 2008. Arrumar trabalho numa caldeira já é considerado por
eles uma grande conquista. Assistimos com os personagens o declínio das
indústrias pesadas na América e o consequente impacto que esse declínio causa
nas pequenas comunidades que dependem delas. Como o ótimo título original
insinua em metáfora, não existe possibilidade de eles saírem de perto da
fornalha, apenas aprendem resilientes a tolerar o calor infernal.
São perceptíveis óbvias referências ao trabalho de Michael Cimino em “O Franco
Atirador”, explorando a caça como analogia, a recusa de Russel em atirar, mesmo
quando o animal está na mira, e com breves questionamentos sobre o tratamento
dado aos veteranos de guerra, sendo que a intenção não é tanto o panfletarismo
político/social, mas sim compor um clima ideologicamente opressivo o bastante
para que nos levemos a questionar, assim como os personagens, a linha tênue que
separa a justiça do vigilantismo e aquela praticada nos tribunais.
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