Sem Evidências (Devil's Knot - 2013)
O diretor egípcio Atom Egoyan, em sua primeira produção
americana, escolhe abordar um caso real muito divulgado em sua época, com o
mesmo frescor e senso de suspense que o recente filme nacional “O Lobo Atrás da
Porta”, que também tinha a missão de tornar interessante uma história que
muitos já conheciam.
A estrutura utilizada é didática em excesso, como se o roteiro de Scott
Derrickson e Paul Harris Boardman não quisesse correr riscos, mas um rápido
detalhe visual que depende da cultura geral do espectador insinua o traço de
coragem ideológica que compensa as falhas. Em uma das cenas no escritório do
protagonista vivido por Colin Firth, o único interessado em averiguar a fundo o
caso de homicídio das três crianças encontradas no fundo de um rio, nós podemos
enxergar uma foto do guitarrista de blues Robert Johnson, cujo legado ficou
marcado por um boato de que ele teria vendido sua alma ao diabo para conquistar
a perfeição em seu ofício, algo que o conduziu a uma morte precoce (aos
interessados, recomendo o filme “Encruzilhada”, de 1986). Desse momento em
diante, temos a certeza de que estamos assistindo o relato de um conto de
injustiça, ao invés de um filme de tribunal convencional, onde se busca
descobrir culpados.
Reese Witherspoon, como a mãe de uma das vítimas, já dá o tom logo em uma de
suas primeiras cenas, quando reage retirando brutalmente com as mãos, chumaços
de seu próprio cabelo, entregando ao policial que pedia amostras de DNA. Uma
mulher que já era desequilibrada emocionalmente antes da tragédia, tendo
tendências ao fanatismo religioso, alguém facilmente manipulável, casada com um
homem violento. A trama evita explorar o melodrama, optando por uma frieza
coerente à atitude do investigador Ron (Firth), porém a emoção nasce
naturalmente em breves cenas, como a que mostra a mãe recebendo o carinho dos
colegas da escola do filho.
A obra mostra como é fácil desinformar, criar vilões no inconsciente de um
coletivo que já está propenso ao linchamento público, com o apoio incondicional
de uma imprensa irresponsável, preguiçosa e que se interessa pelo espetáculo da
manchete chamativa, preferindo publicar a partir de moldes já trabalhados, do
que investigar a fundo, desconstruindo o caso. Era muito mais interessante,
vendia mais jornais, o homicídio ser fruto de uma seita satânica, composta
obviamente por jovens fãs góticos de Heavy Metal. E, basta analisar casos
recentes em nossa nação, para constatar que o ocorrido no início da década de
noventa é, infelizmente, bastante atual. Avançamos tecnologicamente, mas
instintivamente continuamos homens das cavernas na busca pelo próximo
apedrejamento, odiando aquelas figuras que a mídia decide que temos que odiar,
comprando a farsa e fazendo sangrar inocentes nesse processo.
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