Capitão Phillips (Captain Phillips - 2013)
O filme de Paul Greengrass, que utiliza com excelência suas
origens como documentarista, é baseado nos eventos que ocorreram em 2009,
envolvendo o audacioso ataque pirata de somalis a um cargueiro americano e
retratando a bravura de seu capitão em seu posicionamento no sequestro. Tom
Hanks (Richard Phillips), pela primeira vez em muito tempo, defende um
personagem fora de qualquer arquétipo e que, devido à força e verissimilitude
do roteiro, possibilita com que ele explore diversas camadas de interpretação.
Como a crescente tensão é trabalhada evitando artifícios usuais sentimentalistas,
podemos nos focar exclusivamente nas emoções humanas que são despertadas em
situações de perigo, como a compaixão. Não somos manipulados, mediante uma
dramatização exagerada, mas sim convidados a testemunhar o heroísmo que nasce
nos momentos breves em que a humanidade é colocada à prova. Sem fórmula industrial, somos apresentados a dois personagens tridimensionais
com generoso tempo de cena, suficiente para que seus conflitos atinjam níveis
de reflexão impossíveis em patrióticos projetos similares. Muse, excelente
atuação natural de Barkhad Abdi, o líder dos piratas, compartilha dos mesmos
medos e crenças que o estranho cuja cabeça está sendo pressionada pelo cano de
seu revólver. Ele e seus comandados não são caricatos terroristas, mas homens
simplórios que vivem em condições sub-humanas, porém capazes de admirar a
valentia de seus reféns.
Como a força sobre-humana que faz uma mãe levantar um carro com as mãos para
salvar um filho, assistimos angustiados um homem comum, inicialmente não muito
simpático, caminhando sob o fogo, consciente de que as cicatrizes das
queimaduras nunca abandonarão seu corpo. A catarse que sua atuação provoca em
certas cenas, algumas infelizmente prejudicadas por um desnecessário
“overacting” do diretor, compensa pelo tédio dos primeiros 15 minutos, que
obedece a cartilha básica do suspense confortável, com diálogos truncados, tentando
abraçar todas as motivações de personagens subutilizados com frases de efeito,
e subtramas que nunca são plenamente aproveitadas. Mas no exato instante em que o cargueiro inicia sua viagem, a cartilha é
atirada ao mar e o timão está nas mãos competentes de Greengrass, conduzindo a
câmera dinâmica de Barry Ackroyd (de “Guerra ao Terror”), que captura com
perfeição a sensação claustrofóbica vivida pelos tripulantes. Entregando um
thriller eficiente, com arcos narrativos complexos e 15 minutos finais
extremamente empolgantes, “Capitão Phillips” é um dos melhores filmes em seu
gênero nos últimos anos.
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