A Estranha Passageira (Now, Voyager – 1942)
Adaptado do livro de Olive Higgins Prouty, conta a história de Charlotte Vale (Bette Davis), uma mulher tímida
devido à sua repreensiva mãe, Mrs. Vale (Gladys Cooper). Emocionalmente
perturbada, ela é ajudada por um psiquiatra, Dr. Jaquith (Claude Rains), que a
incentiva a fazer mudanças radicais em sua vida.
Um dos cinco melhores trabalhos de Bette Davis, seu maior
sucesso comercial, e com certeza um dos melhores romances da década de
quarenta, mas infelizmente esquecido nos dias de hoje. Um dos aspectos mais curiosos é que durante o segundo ato ele se
passa no Brasil, garantindo belas imagens do “Pão de Açúcar” e do “Corcovado”,
mas também um alívio cômico pra lá de duvidoso, um atrapalhado taxista
brasileiro (“mezzo-italiano/mezzo-portunhol”) de nome “Giuseppe”, que pode
entrar na seleta lista de representações de tipos mais ofensivos, junto com o
asiático vivido por Mickey Rooney em “Bonequinha de Luxo”. O tema que a obra
aborda é muito interessante: a influência de uma mãe superprotetora em uma filha
submissa. Davis consegue com grande sutileza passear entre a timidez excessiva,
o desejo por liberdade ainda com culpas e a resignação redentora ao final.
John e Mary (John and Mary - 1969)
O diretor inglês Peter Yates é normalmente lembrado pelo
excelente "Bullit", com Steve McQueen, mas o filme de sua carreira
que mais revisito, sempre com prazer renovado, é esta pequena gema. Já li muitos críticos estrangeiros apontando erros,
argumentando que os protagonistas não são desenvolvidos ou que a própria trama
não se aprofunda na relação entre os dois. Então qual é a mágica que sobrepuja
qualquer defeito que possa ser encontrado, tornando a experiência de rever
Dustin Hoffman e Mia Farrow tão prazerosa? Quando um crítico analisa uma obra
de arte como se estivesse resolvendo uma equação matemática, acaba
racionalizando em excesso e perdendo a sensibilidade para os detalhes.
Os dois jovens se esbarram em um bar, completos estranhos
que, sem imaginarem, carregam o mesmo medo, as mesmas preocupações. Ela busca
conhecer alguém com quem possa passar uma noite, sem a preocupação de que o
homem precise voltar para sua esposa antes do nascer do dia. Ele acabou de ser
usado por uma modelo fútil, que se apoderou de seu apartamento por conveniência, não precisaria pegar mais táxi para o trabalho, o que o fez temer este tipo
de aproximação, esta entrega emocional plena. Os nomes um do outro,
desconhecem. Eles inicialmente buscam conhecer-se analisando discretamente seus
pertences pessoais, sempre mantendo diálogos internos muito mais reveladores
que os externos, algo resolvido de forma simples e eficiente no roteiro,
similar ao que Woody Allen utilizaria anos depois em seu "Annie
Hall". Adoro o momento em que ela conta onde e com quem mora, mas
assistimos a narração pelo ponto de vista dele, o humor é muito bem
trabalhado. Fica clara a influência estética dos primeiros filmes europeus
da Nouvelle Vague.
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