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Robocop 3 (1993)
É difícil defender esse prazer culposo, mas tentem entender
o contexto em que ele foi inserido na vida da criança que fui outrora. Eu não
tinha idade para assistir os dois primeiros no cinema, mas eles, especialmente
o primeiro do Paul Verhoeven, praticamente moravam dentro do meu videocassete. Eu
tinha as adaptações em quadrinhos e o álbum de figurinhas, aquele que tinha
mais fotos do desenho animado que passava nas manhãs da TV Globo, que, aliás, foi
um dos poucos que consegui completar. Eu cantarolava o tema de Basil Poledouris
pela casa, as trilhas sonoras de cinema eram, por assim dizer, minha “Xuxa”. “Robocop
3” não seria apenas o primeiro do personagem que eu poderia ver no cinema, como
também seria o primeiro que eu assistiria no cinema depois de um longo e
tenebroso inverno afastado das salas de rua. Lá estava eu, aos oito anos de
idade, nas férias escolares, acompanhado da minha mãe em um cinema de rua,
empolgado para meu reencontro com o policial do futuro. Tenho certeza que me
diverti muito e não achei nada esquisito no fato dele agora poder sair voando e
enfrentar robôs ninjas. A ressaca viria anos depois, quando revi com os olhos
mais treinados.
O roteiro é horroroso, com o desgastado clichê da companheira
mirim superinteligente e uma das piores batalhas finais de que me lembro,
incrivelmente anticlimática, colocando um herói com sérios problemas de
mobilidade contra dois robôs com sérios problemas técnicos. O diretor Fred
Dekker, do bom “A Noite dos Arrepios”, até desistiu da carreira depois desse
fiasco. Na intenção de atingir uma classificação etária mais interessante
mercadologicamente, os envolvidos trocaram o vilão que é derretido no ácido
pelo cidadão que é atingido por uma ameaçadora flecha. O policial do futuro,
vivido dessa vez por um equivocado Robert John Burke, agora pode desatarrachar
sua mão biônica e trocá-la por uma bazuca, transformando ele em um genérico
robô de desenho animado. O cenário pretensamente apocalíptico, dominado pelos
punks caricatos dos clipes do Michael Jackson, é tão inofensivo que a parceira
Lewis (Nancy Allen) nem faz questão de usar colete de proteção, mas não se esquece
de armar o cabelo como se estivesse indo a uma festa. Nem vou comentar as cenas
de voo, uma ideia absurdamente tola, que me leva a pensar como alguém pode ter
achado que seria visualmente interessante mostrar uma tora de madeira
impulsionada por um foguete nas costas. Só faz sentido no departamento de
brinquedos.
E o desfecho? “Os meus amigos me chamam de Murphy, mas você me
chame de Robocop”, com direito a sorrisos constrangedores dos coadjuvantes e o
herói de mãos dadas com uma criança. Pior, impossível! Mas eu assisto sempre
que pego passando na televisão, pura nostalgia, por me fazer recordar daquele
garoto empolgado na poltrona do extinto Cine Carioca da Tijuca, louco pra
escutar pela primeira vez aquela trilha sonora no cinema.
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