Amar Foi Minha Ruína (Leave Her to Heaven - 1945)
Embora seja noiva de um político (Vincent Price), Ellen
(Tierney) seduz o belo Richard (Cornel Wilde) e casa-se com ele após conhecê-lo
há poucos dias. Mas Richard logo descobre com sua irmã (Jeanne Crain) e sua mãe
(Mary Philips) que o egoísmo e o amor possessivo de Ellen arruinaram a vida de
outras pessoas. Quando seu próprio irmão se afoga sob os cuidados de Ellen e
ela perde o filho que esperava, a suspeita de Richard sobre a insaciável
devoção de Ellen aumenta cada vez mais.
Nada mais propício que utilizar no título uma frase contida
em "Hamlet", para uma obra cuja protagonista vive uma constante
batalha interior. Ainda que a direção de John M. Stahl não tenha envelhecido
muito bem, com alguns problemas de ritmo, causando um segundo ato arrastado, a
beleza hipnótica de Gene Tierney (que havia feito o excelente Noir
"Laura", no ano anterior) e a complexidade que ela consegue inserir
em sua caracterização, alternando entre a obsessão patológica e uma pureza
infantil (ela foi indicada ao Oscar por esta interpretação), nos prende a
atenção. O terceiro ato ganha pontos com a presença de Vincent Price, com sua
verve teatral habitual, que acabaria "casando" perfeitamente em seus
projetos no gênero terror. A fotografia de um colorido exuberante, de Leon
Shamroy, conquistou um Oscar, mesmo contrastando com a história sombria que
emoldura. Vale ressaltar também uma excelente, e subestimada, trilha sonora de
Alfred Newman. A obra foi o maior sucesso financeiro dos estúdios Fox, na
década de quarenta.
Brutalidade (Brute Force - 1947)
Baseado num artigo de jornal e com roteiro de Richard Brooks
(A Sangue Frio), Brutalidade conta a história de um motim na prisão
de Westgate. A ação é centrada na vida de seis homens que vivem na mesma cela.
O líder do grupo é o gângster Joe Collins (Burt Lancaster). Eles se rebelam por
causa das atitudes sádicas do Capitão Munsey (Hume Cronyn), o chefe da guarda
da prisão.
Excelente produção dirigida por Jules Dassin, em seu período
pós-guerra, antes de comandar "Rififi", que continua entretendo da
mesma forma que em seu dia de estreia, funcionando como um eficiente suspense e
um pioneiro "filme de prisão". A forma franca como a violência é
exibida, especialmente em seu terceiro ato, chocou o público e a crítica da
época, porém a mensagem que o roteiro transmite é mais profunda. A frase que
fecha a obra: "ninguém realmente escapa", complementa as cenas que
são mostradas em flashback, com a vida pregressa de cada prisioneiro da cela
R17, evidenciando as mulheres de suas vidas, deixando claro que não existe
fuga para aqueles homens. Eles nunca serão os mesmos, nunca serão vistos pela
sociedade como outrora. Esta crítica ao sistema carcerário, que não reabilita
os prisioneiros na sociedade, torna-se o elemento que se mantém na memória dias
após a sessão. Burt Lancaster impõe com sua rochosa presença física um tipo
clássico, estereotipado, mas quem surpreende positivamente é Hume Cronyn (os
mais jovens o reconhecerão como um dos velhinhos no clássico dos anos oitenta:
"Cocoon"), vivendo um impiedoso chefe da segurança, que escuta Wagner
(referência sutil à Hitler?) enquanto tortura um dos presos.
A Sombra do Pecado (Cast a Dark Shadow - 1955)
Um esperto caçador de fortunas (Dirk Bogarde), com uma
propensão para o assassinato, mata sua esposa e consegue fugir.
O diretor britânico Lewis Gilbert ficaria famoso
internacionalmente por comandar três produções emblemáticas da franquia
"007" (como "O Espião que me Amava", em 1977), mas realiza
nesta adaptação da peça de Janet Green (responsável por "A Teia de Renda
Negra" e "Meu Passado me Condena") sobre um jovem "Barba
Azul", um legítimo "Noir" da melhor qualidade. Muito ajudado pela
vigorosa interpretação de Dirk Bogarde, como Teddy Bare (bom trocadilho com
"Bear", "Ursinho Teddy"), um jovem que utiliza
generosamente seu charme para acumular fortuna. Muito interessante a forma que
a câmera enquadra a cadeira de balanço da viúva, como se nela estivesse retida
a força vital da mulher, que continua perseguindo a consciência do homem, mesmo
após a morte. O roteiro trabalha sutilmente a possibilidade de homossexualidade
no jovem, interpretado com certa afetação por Bogarde, como quando ele é visto
lendo uma revista de fisiculturismo masculino. Vale destacar a fotografia do
excelente Jack Asher, que traria elegância para as produções de terror dos
estúdios Hammer, que trabalha, como de costume no estilo, legado do
Expressionismo Alemão, as sombras, como se gradualmente aprisionassem o
protagonista, até uma cena importante em que apenas seus olhos são iluminados.
O desfecho é surpreendente, não perdeu sua eficiência, e o filme merece constar
entre os mais interessantes do gênero.
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