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Uma Galinha no Vento (Kaze no Naka no Mendori – 1948)
Passando por dificuldades e com o filho doente, Tokiko se
prostitui por uma noite para poder pagar as despesas enquanto Shuichi, seu
marido, está lutando no front.
Como sempre tive um espírito arqueológico, a primeira coisa
que fiz ao receber o digistack da Versátil foi assistir ao filme que eu não
conhecia. E que grata surpresa! Yasujiro Ozu demonstra que estamos testemunhando uma
alegoria poética, já evidenciando desde a primeira cena a importância do
cenário do Japão derrotado durante a ocupação americana, simbolizado pela
favela industrial onde habita com dificuldade a jovem protagonista Tokiko (Kinuyo
Tanaka) e seu filho pequeno, aguardando com esperança o retorno de seu marido
(Shuji Sano), enquanto sobrevive da generosidade dos amigos.
Ela acaba agindo impulsivamente, indo contra todos os seus
princípios, procurando a prostituição como forma de conseguir pagar o
tratamento do filho doente. A jovem, como o Japão em guerra, perde a pureza. Ozu
utiliza na execução da metáfora alguns artifícios incomuns em sua filmografia,
como a violência, na forte cena em que o marido revoltado empurra a esposa, que
rola escada abaixo. O interesse/foco narrativo está no esforço dela em se
manter de pé, lutando contra a perna machucada, mostrando-se enfim resiliente
aos olhos dele. O caminho mais fácil seria ela continuar deitada, implorando humilhada
a pena dos outros, mas dessa vez ela irá resistir, aceitando o erro e aprendendo
com a experiência, assim como a sociedade japonesa que estava se reconstruindo
das cinzas.
*O filme está sendo lançado pela distribuidora Versátil no
digistack “O Cinema de Ozu – Vol. 2”, que também conta com: “Pai e Filha”, “Começo
de Primavera”, “Ervas Flutuantes”, “Fim de Verão” e “Flor do Equinócio”.
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