As Coisas da Vida (Les Choses de La Vie – 1970)
Pierre (Michel Piccoli), um bem-sucedido engenheiro, sofre
um acidente de carro e, ferido mortalmente, relembra seu passado e as pequenas
coisas que fazem a alegria da vida.
Nesse delicado filme, que foi o primeiro da parceria entre o
diretor e a bela austríaca Romy Schneider, fica claro o contraste de estilos
entre o olhar refinadamente inteligente de Claude Sautet, que atraía público e
agradava os críticos, e o cinema experimental, por vezes hermético, que era
realizado na época pelos colegas franceses da Nouvelle Vague. A estrutura que
move a trama, flashback dentro de flashback, trabalha em favor da narrativa,
potencializando o impacto sensorial sem parecer existir apenas como um pedante
exibicionismo. As lembranças do protagonista moribundo, que passeiam desde a
ternura pela ex-mulher e seu filho até os idílicos encontros com uma nova
namorada mais jovem, estão integradas à sua passividade física no tempo real, tendo
sua duração sincronizada ao período de sua inconsciência.
O diretor nos leva a interpretar as motivações dos
personagens no ato de observar eles em silêncio, estando mais interessado em
registrar, por exemplo, um sorriso casual, do que o gracejo que o causou.
Adentramos na privacidade daqueles estranhos imperturbáveis à ação do tempo,
naqueles breves momentos que, em outros filmes, a câmera já teria se desviado
ou teria sido desligada. A linda trilha sonora de Philippe Sarde emoldura os
momentos de melancolia do protagonista, como na cena em que experimenta o amargor
do arrependimento durante uma viagem noturna de carro. Pierre (Piccoli) ainda não
se acostumou com a ausência de sua ex-mulher (Lea Massari), sentindo saudade
daquela convivência em sua zona de conforto, então escreve impulsivamente uma fria
carta de rompimento para a apaixonada jovem namorada (Schneider), mas se
arrepende tarde demais. O acidente o imobiliza, incapacitando-o de exteriorizar
suas emoções, impedindo-o de fazer o que desejou mais que tudo em sua vida: o
simples rasgar de um pedaço de papel.
* O filme, inédito no mercado brasileiro, está sendo lançado pela distribuidora Versátil.
Eu amei este filme , e gostei mais de relembra lo e vê lo novamente
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