Nebraska (2013)
Em alguns momentos na beleza da fotografia em preto e branco,
mérito de Phedon Papamichael, senti uma forte inspiração em “No Decurso do Tempo”
(Im lauf der zeit – 1976). Os dois companheiros viajantes de Wim Wenders
cruzavam o país como forma de expor uma realidade social decrépita, enquanto o diretor Alexander Payne utiliza o road movie como ferramenta estilística para
evidenciar a viagem interna de um pai, tentando suturar as feridas abertas em
seu passado, acompanhado de seu filho caçula e uma simples propaganda
promocional enviada pelo correio.
A beleza maior nesse filme minimalista está na insinuação de
que o velho cansado, disposto a caminhar uma absurdamente longa distância para
requisitar seu prêmio, talvez seja o único com plena consciência de que não há
tesouro algum no final da jornada. Ele também sabe que seu filho mais velho
intenciona colocá-lo em um asilo. Todos os abutres que encontra ao revisitar
seu passado, incluindo membros de sua própria família, aglomeram sobre o frágil
homem com sorrisos falsos, desejando apenas uma fatia generosa desse bolo.
Todos chegam a crer na possibilidade milionária em algum ponto dessa longa
estrada até Nebraska, e o silencioso protagonista interpretado por Bruce Dern
(Woody) está disposto a não quebrar a ilusão, pois após décadas de desgastante
rotina, ele está sendo notado, até mesmo aplaudido.
A cena em que ele busca sua dentadura nos trilhos do trem, com o filho, serve
como demonstração de sua lucidez ácida. Em seu rosto aparentemente frio na cena
do videokê, podemos notar o choque por constatar a falsidade daquelas pessoas,
ainda que o roteiro, ótimo trabalho minimalista de Bob Nelson, nos estimule a
ver sua reação impulsiva conectada à emoção de estar sendo reconhecido. As
canções selecionadas, nunca por acaso, potencializam a crítica comportamental:
“Time after time”, “In the ghetto” (a letra com mais consciência social,
ironicamente entregue àquele que menos a personifica na trama) e “Green, green
grass of home” (a realidade que o homem encontra é a perfeita antítese da letra
que incita a nostalgia do antigo lar).
Uma grata surpresa é o senso de humor eficiente que permeia o filme,
personagens hilários como a mãe desbocada, aniquilando em poucos minutos a
forte impressão de que seria uma experiência profundamente sorumbática.
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