100 Rifles (1969)
Em 1912, o xerife Lyedecker (Jim Brown) cruza a fronteira do
Arizona com o México e vai até a região de Sonora, em perseguição ao ladrão de
bancos Yaqui Joe Herrera (Burt Reynolds). Quando o encontra num pequeno
povoado, vê que Joe está para ser fuzilado pelo sádico General Verdugo (Fernando
Lamas) por ter usado o dinheiro que roubara para comprar rifles para o seu povo
índio, os Yaqui, que estão em guerra contra os mexicanos.
Essa pérola brinca no terreno do Tortilla Western italiano, sem
a predominância dos sobretons políticos usuais do subgênero, mas com uma
tremenda noção de ritmo, mérito da direção de Tom Gries. A produção acabou
ficando na sombra de “Os Profissionais”, lançado dois anos antes, obra
superestimada que promete mais do que cumpre. Já “100 Rifles” entrega mais do que
sua simples premissa prometia. Dois nomes: Raquel Welch e Soledad Miranda,
belas, seguras e exalando sensualidade em cenas bastante ousadas para a época. Soledad
tinha tudo pra se tornar uma estrela, mas faleceu jovem em um acidente de
automóvel, logo após filmar “Vampyros Lesbos”, de Jess Franco. Jim Brown, o lendário
jogador de futebol americano que surpreendeu em “Os Doze Condenados” e que
depois se tornaria um dos grandes nomes do blaxploitation, consegue soar crível
nas cenas de ação e nos momentos mais dramáticos, o alicerce moral da trama, um
ótimo ator que ainda não recebeu o reconhecimento que merece. Vale destacar a
cena de sexo entre ele e Welch, uma das primeiras a corajosamente quebrar
barreiras raciais no cinema, algo que causou controvérsia em seu lançamento.
Burt Reynolds, que tem descendência cherokee, repete basicamente a estrutura de
seu personagem indígena homônimo no anterior “Joe, o Pistoleiro Implacável”, de
Sergio Corbucci, mas emula claramente os trejeitos de Marlon Brando. O trio tem
uma química adorável em cena, o que potencializa o impacto emocional nas várias
sequências empolgantes de ação. A trilha sonora do mestre Jerry Goldsmith é
impecável, ela foi lançada pelo selo importado Film Score Monthly, vale cada
segundo investido. Eu recomendo especial atenção na bela faixa “Lyedecker and
Sarita”, mas o disco todo é fantástico, aquela explosão sonora característica,
experimentando até com um sitar indiano, a moldura perfeita e nada
convencional, ao estilo do compositor. Outro ponto interessante no roteiro é a
utilização inteligente do faroeste como veículo para uma crítica direcionada à
hipocrisia religiosa, na cena que mostra o padre, que serve a um homem corrupto
e cruel, preparando a alma de um dos personagens que está prestes a ser
fuzilado. Quando o padre recebe o troco na mesma moeda, o enquadramento
posiciona o crucifixo da igreja vigilante sobre o ombro da vítima que conseguiu
escapar outrora, debochadamente constatando que ninguém está preparado para ser
assassinado.
* O filme está sendo lançado em DVD pela distribuidora “Classicline”.
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