The Warriors - Os Selvagens da Noite (The Warriors – 1979)
Nova York, 1979. A cidade está tomada pelas gangues de rua
que guerreiam entre si e contra a polícia. Cyrus (Roger Hill), o líder da maior
gangue da cidade, os Gramercy Riffs, declara uma trégua e convoca uma reunião
geral no Bronx com a intenção de unir todas as gangues para a dominação total
da cidade. No entanto, durante o seu pronunciamento, é assassinado. Para se
salvar, o assassino imediatamente acusa os Warriors, que passam a ser
perseguidos por toda a cidade.
Sem dúvida alguma, objeto de adoração por aqueles que
acompanharam seu lançamento, com todas as polêmicas que despertou, incluindo
brigas de gangues que marcavam encontro nas sessões. O estúdio se viu obrigado
a deixar de lado as propagandas, já que muitos exibidores desistiram de passar
o filme. No Brasil, passava nas madrugadas televisivas da década de 80.
A trama, baseada livremente em obra homônima de Sol Yurick
(inferior, em alguns aspectos, especialmente por não conter a subtrama da
injusta perseguição pela morte do líder) e no conto grego “Anábase”, de
Xenofonte, é muito simples e esconde uma camada filosófica, além de um
refinamento de estilo, que poucos se dedicam a reconhecer. Seus créditos
iniciais são criativos e já evidenciam características importantes dos
personagens centrais, com exceção de Swan, vivido por Michael Beck, cuja
incógnita existencial é essencial em seu arco narrativo. São traços rápidos,
propositalmente caricaturais, como é usual nos roteiros de Walter Hill. Swan
inicia como o segundo em comando, sem experiência alguma e sem demonstrar
nenhum interesse escapista nos atos do grupo, reparem que ele não sorri em
nenhum momento, apenas simbolicamente no final, quando sutilmente reconhece em
sua frente o verdadeiro assassino do líder, porém, atua naquela noite como se tudo
não passasse de um teste que ele impôs a si mesmo. Ele não ambiciona ser líder
por satisfação do ego, mas, sim, por um senso de responsabilidade para com seus
colegas. Ele é o único personagem que se modifica tremendamente ao longo da
duração do filme. Não é por acaso que ele é mostrado nos créditos finais
caminhando atrás de todo o grupo, ressaltando que havia decidido internamente
que não queria mais viver aquela vida.
Detalhes sutis de iluminação, do veterano Andrew Laszlo, ressaltam o trabalho minucioso da direção, como na transição das luzes do
semáforo (vermelho e amarelo), para Swan e sua garota caminhando no túnel do
metrô, sendo imediatamente banhados pela luz vermelha, exatamente no momento em
que seu personagem experimenta uma agressiva mudança de humor. Vale ressaltar
também que, ao clarear o dia, quando os Warriors terminam sua ronda, a câmera
evidencia que eles saltam do trem (outro leitmotiv) na “Stillwell Avenue” (algo
como: “Avenida ainda a salvo”), como que um sinal de que tudo não passou de
encenação inofensiva. Basta perceber que Luther, vivido por David Patrick
Kelly, supostamente o grande vilão, não passa de um esquisito franzino cômico
de voz esganiçada, numa composição que beira a vergonha alheia.
O fato de haver poucas cenas de batalha entre as gangues já
serve como um sinal, aliado à ingenuidade inerente, por exemplo, aos uniformes
de cada gangue, de que tudo se resume a uma alegoria fantástica, uma metáfora
envolta em entretenimento politicamente incorreto, com forte inspiração nas
histórias em quadrinhos. Interessante é a forma como algumas cenas são
melhoradas na edição, com cortes de frames, intensificando a velocidade de
movimentos e aumentando a noção de fantasia. Diferente de outros projetos
similares da época, Hill não buscava veracidade alguma em seu passeio na “roda
gigante” (leitmotiv estabelecido desde o início), onde os personagens estão
eternamente presos em seus próprios paradigmas.
* A editora "Darkside Books" está lançando, com o refinamento já reconhecido pelos leitores, a obra original de Sol Yurick, escrita em 1965, inédita no Brasil. É uma pérola essencial na estante do cinéfilo mais dedicado.
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