Sicario - Terra de Ninguém (Sicario - 2015)
Os dois últimos filmes do diretor, “Os Suspeitos” e “O Homem Duplicado”, entraram em minhas listas de dez melhores em seus respectivos anos, então nem preciso salientar o quanto aprecio o trabalho de Denis Villeneuve. Ele retorna com a mesma pegada tensa, esbanjando sua facilidade na construção do clima, porém, infelizmente, acaba sendo vítima de um roteiro fraco, cheio de situações convenientes e incoerentes, escrito pelo estreante Taylor Sheridan.
Os fios tão bem manipulados por esse titereiro, desta feita, ficam claramente visíveis, ainda que a belíssima fotografia de Roger Deakins consiga, em diversos momentos, atuar como um mágico competente, iludindo para que não enxerguemos a frágil composição dos arcos narrativos, um roteiro que liga os pontos e conduz o espectador pela mão, na tênue linha do panfletário em seu tema. Ainda assim, é impressionante a competência do diretor ao estabelecer o senso de perigo em cenas teoricamente tranquilas, onde a movimentação frenética que ocorre é interna, nas motivações dos personagens.
Algo que me incomodou foi o desleixo na representação estereotipada do contexto mexicano, que contrasta com o senso de realidade presente na obra. Os vilões são facilmente discerníveis, como em uma revista em quadrinhos. Sempre que a trama se afasta da personagem vivida por Emily Blunt, uma agente do FBI que busca confrontar um chefão do crime mexicano, com motivações bem desenvolvidas e uma atuação plena em nuances, deixando em evidência suas transformações internas, o tédio toma conta, com sequências e soluções convencionais. Benicio del Toro também consegue dar tridimensionalidade às suas ações, sugerindo com sua projeção vocal uma tensão que agrega um misto de perigo e fragilidade, ainda que defenda um texto fraco em poucos diálogos. Não é algo que irá incomodar o cinéfilo casual, o filme está longe de ser ruim, mas, conhecendo o talento do diretor, mestre em desafiar o público, dá certa frustração constatar essa derrapada.
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