domingo, 11 de outubro de 2015

O. Henry e "Páginas da Vida"


Páginas da Vida (O. Henry’s Full House – 1952)
Escrever sobre esse filme foi uma ótima desculpa para reler “Os Melhores Contos de O. Henry”, edição do Círculo do Livro, saboroso fruto de um dos meus garimpos nos sebos cariocas. Gosto demais do estilo desse autor injustamente tão pouco conhecido no Brasil, crônicas objetivas, traços rápidos que estabelecem bem os personagens e o contexto das situações, sempre com uma espirituosa reviravolta no final. Um humor que continua tão eficiente quanto em sua época, talvez, até mais moderno em sua estrutura, do que grande parte dos textos cômicos atuais. E aprecio, principalmente, a mensagem inerente aos textos, que celebram valores e princípios há muito esquecidos, como no meu favorito: “O Presente dos Magos”, que recebeu uma excelente adaptação nessa antologia, dirigida por Henry King e protagonizada por Farley Granger e a belíssima Jeanne Crain, fechando de forma magnífica a obra. O sacrifício de um casal, que aprende, na véspera do Natal, o real significado do amor.

A cereja no bolo é a participação do escritor John Steinbeck, em rara aparição na frente das câmeras, como o narrador de cada trama. Como em toda antologia, a qualidade varia bastante, porém, dentre as cinco histórias, não há sequer uma ruim. A mais irregular, “O Resgate do Chefe Vermelho”, dirigida por Howard Hawks, consegue atingir pontos hilários, com a dupla de sequestradores atrapalhados percebendo que o pequeno refém é osso duro de roer, conduzindo a um desfecho brilhante, que obviamente não revelarei. A terceira, o ponto alto do projeto, “A Última Folha”, dirigida por Jean Negulesco, adaptada de um dos contos mais emocionantes do autor, consegue acertar no tom do melodrama, sem se debruçar demais na sacarina. Acredite nesse escriba, quanto menos você souber sobre essa trama, melhor será a experiência, e, não tenha dúvida, você vai precisar de muitos lenços ao final.

* O filme está sendo lançado em DVD pela distribuidora: “Obras-Primas do Cinema”, com ótimo material extra, curtas e um bom documentário sobre a vida e obra do escritor O. Henry.

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