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Lobo Samurai (Kiba Okaminosuke – 1966)
O solitário ronin Kiba chega a uma aldeia para defender uma
bela mulher cega de homens inescrupulosos.
Lobo Samurai 2 (Kiba Okaminosuke: Jigoku Giri – 1967)
O solitário ronin Kiba se envolve com os planos de vingança
de um prisioneiro que se parece com seu falecido pai.
Buscando inspiração em “Yojimbo”, de Kurosawa, e nos
faroestes italianos, Hideo Gosha desconstrói as expectativas do chambara já nos
créditos de abertura, onde, após uma rápida demonstração de técnica do
protagonista com a espada, com direito a freeze frame sublinhando uma postura
de agressividade, o foco da atenção acaba sendo conduzida para o trivial ato da
alimentação, com ele, já adotando uma atitude brincalhona, devorando uma tigela
de arroz. Com uma pegada de humor muito similar a “Três Samurais Fora da Lei”,
de 1964, resgatado pela Versátil na primeira caixa “Cinema Samurai”, ele cria Kiba,
vivido com carisma por Isao Natsuyagi, um personagem que foge da abordagem
amarga e cínica usuais no gênero, uma espécie de variação do que viria a ser o cowboy
Trinity, vivido por Terence Hill, combinado ao Sartana, de Gianni Garko. O
segundo filme, ainda que consideravelmente mais sombrio, explorando as origens
familiares dele, também ganha pontos pela leveza na abordagem.
Gosto muito de uma cena que ocorre no terceiro ato do
primeiro, uma atitude de Kiba que sintetiza os códigos de honra de uma
sociedade mais nobre, além de distanciar ele, positivamente, de grande parte
dos heróis do gênero. Ao perceber que seu oponente está com um dos braços
imobilizado, ele interrompe o confronto, atando sua mão à cintura, para que
ambos estejam lutando nas mesmas condições. Há uma espécie de leitmotiv
discreto, envolvendo um macaquinho e, no segundo filme, uma tala que protege o
pulso, símbolos que, sem revelar momentos da trama, irão reforçar o valor do
sacrifício e a necessidade de se sublimar os obstáculos físicos, temas
recorrentes nas duas tramas. Gosha consegue injetar nessas sequências de ação,
aparentemente minimalistas, um classudo tom de reverência, transformando os
homens em mitos, com o uso generoso da câmera lenta e, principalmente, do
silêncio. Vale salientar também a trilha sonora de Toshiaki Tsushima, um misto
de gaita e piano, que me remeteu imediatamente aos trabalhos de Ennio
Morricone.
O bonito desfecho do segundo filme, com o protagonista
sofrendo uma traição inesperada, pode ser visto como a gênese do anti-herói
amargo típico dos chambara. É uma pena que o diretor não seguiu adiante com a
história de Kiba “Presas de Lobo” em outros projetos. O ronin, tendo aprendido
com o sofrimento, caminha em direção a um precipício literal, e,
principalmente, existencial.
* Os filmes estão sendo lançados em DVD pela distribuidora Versátil na caixa “Cinema Samurai 4”, que inclui também: “A Última Espada”, “Juramento
de Obediência”, “Crônicas dos Shinsengumi” e “Guerra de Espiões”.
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