Link para os textos do especial:
Top Gang 2 – A Missão (Hot Shots! Part Deux! – 1993)
Como tentar transportar o leitor adolescente de hoje para o
contexto em que vivi a experiência desse filme? Era uma realidade tão
diferente. Pra começo de conversa, consigo me lembrar da exata sensação de
euforia que sentíamos ao adentrar uma locadora de vídeo, com o intuito de
selecionar quais títulos iriam nos consumir o tempo do final de semana. Uma boa
comédia, mais do que qualquer outro gênero, era o sinônimo de família reunida.
Num final de tarde, estava eu, com meu pai, na “RG Vídeo”, quando o atendente
sinalizou a devolução do mais novo fenômeno de locações, a sequência de “Top
Gang – Ases Muito Loucos”. O grande atrativo, você veja só, era um bônus que
vinha antes do filme, um trecho do grande sucesso da época: “Mr. Bean”, se não
me falha a memória, o encontro dele com a rainha da Inglaterra. Eu juro, tinha
gente que alugava mais pra poder rir do Rowan Atkinson, em franca ascensão no
Brasil naquele ano.
O pôster que eu tinha no meu quarto na infância não deixa
negar, o Rambo era um dos meus heróis favoritos, o livro de David Morrell, a versão
de bolso da série: “Campeões de Bilheteria”, era minha “Turma da Mônica”, então
fiquei entusiasmado com aquela paródia, esse era o grande atrativo. O primeiro
filme é tecnicamente melhor, mais redondo, focando as brincadeiras em apenas um
projeto, porém, não tinha me agradado muito. Já o segundo, inferior em todos os
aspectos, sempre me fez rir. O letreiro inicial, com o datilógrafo tendo
dificuldade em escrever uma palavra, dá o tom da palhaçada, um humor menos
elegante do que “Apertem os Cintos, O Piloto Sumiu” e “Corra Que a Polícia Vem
Aí”, com um clima constante de brincadeira da galera do fundão da sala de aula.
Comparado aos vergonhosos similares realizados hoje em dia, pode ser
considerado uma obra-prima.
Saddam Hussein vibrando ao assistir Arsenio Hall na
televisão, biscoitinhos servidos de um busto de Abraham Lincoln, duas das
várias piadinhas bobas que o roteiro joga logo nos primeiros minutos. É
trivial, não há como disfarçar, risada sem contundência. O negócio começa a
melhorar quando acompanhamos a viagem do Coronel Trautman genérico, vivido pelo
próprio Richard Crenna, para a Tailândia, ao encontro de Topper Harley, Charlie
Sheen na melhor fase de sua carreira, antes de virar uma paródia de si mesmo. Essa
sequência conseguia homenagear, ao mesmo tempo, “Rambo 3” e “Kickboxer – O Desafio
do Dragão”, duas das fitas que eu mais alugava. Nunca mais eu conseguiria ver a
cena dos punhos dos lutadores no vidro sem sentir falta das jujubas e do doce de
leite. Era a maior curtição ficar tentando captar todas as referências, que,
vale dizer, não eram nada sutis. O mais interessante é que muitas das falas
mais engraçadas eram tiradas quase que ipsis litteris dos diálogos em “Rambo 3”,
salientando o fato de que o diretor Jim Abrahams estava conduzindo a paródia de
uma paródia que se levava a sério. São muitas as cenas que funcionam no segundo
ato. Só de me lembrar do momento de tensão sexual no banco de trás da
limousine, ao som de “I’m So Excited”, com o motorista aproveitando a vista com
óculos 3D e comendo pipoca, não consigo segurar o riso. Eu veria um filme
inteiro composto dos bastidores das filmagens desse filme, imagino a diversão
desse elenco no set.
É uma pena que não tenham realizado uma terceira parte. Com
certeza seria mais um prazer culposo nesse especial.
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