sexta-feira, 15 de maio de 2015

"Vingadores: Era de Ultron", de Joss Whedon


Vingadores: Era de Ultron (Avengers: Age of Ultron - 2015)
Há um elemento que diferencia o público nerd daquele que frequenta os festivais de cinema e, invariavelmente, despreza qualquer projeto popular: ele busca a satisfação em, pelo menos, um momento bom do filme. Uma cena empolgante, emocionante, já faz valer a experiência. O sisudo que adora ver a tinta secar na parede por quatro horas, quase sempre, está procurando as possíveis falhas no projeto, querendo saber se a obra passará pelo seu criterioso crivo, satisfazendo, em primeiro lugar, o seu inflado ego. Um roteiro como o de “Vingadores: Era de Ultron”, plenamente consciente de seu público-alvo, acaba se permitindo brincar com as expectativas do fã, conduzindo o leitor de quadrinhos, dos oito aos oitenta anos, em uma viagem genuinamente divertida pelo terreno dos escapistas sonhos infantis. Não importa que existam falhas, como em todos os filmes, tudo é perdoado quando o roteiro consegue fazer com que o adulto na plateia, em alguma cena, com um sorriso nostálgico, estenda a mão para sua contraparte infantil. E, sem exagero, o roteirista e diretor Joss Whedon cumpre inteligentemente esse objetivo, no mínimo, umas três vezes ao longo da trama. É óbvio que não irei revelar as cenas, mas, com certeza, posso afirmar que elas superam, em emoção, os melhores momentos do filme anterior. 

A trama carece de um vilão interessante, um ponto fraco, já que a ameaça de Ultron caberia melhor em um desenho animado. Talvez tivesse sido melhor utilizar o tempo para aprofundar o arco narrativo dos irmãos, Feiticeira Escarlate e Mercúrio, o que intensificaria consideravelmente o investimento emocional do público na participação deles no terceiro ato. Ela, Elizabeth Olsen, com a bela plasticidade dos movimentos, acaba se saindo melhor que ele, já que a atuação de Aaron Taylor-Johnson é inacreditavelmente desinteressada, como se o ator tivesse desistido do projeto logo após assinar o contrato. É compreensível perceber o cansaço de Robert Downey Jr., afinal, já é seu quinto passeio nessa montanha-russa, porém, levando em consideração que o Homem de Ferro é parte essencial da construção do problema que será enfrentado pela equipe, senti falta do entusiasmo que o ator transmitia em seu terceiro projeto solo, onde o personagem já lidava com as consequências mentais da primeira aventura da equipe. Continuo impressionado com a competência de Mark Ruffalo, um ator que está visivelmente adorando fazer parte dessa brincadeira, uma sensação que contagia o público em todas as suas cenas. A Viúva Negra, vivida por Scarlett Johansson, recebe maior atenção, assim como o Gavião Arqueiro, de Jeremy Renner, que se torna protagonista de uma subtrama bucólica, na linha tênue do melodrama de um especial para televisão, salvo apenas pelo carisma do ator. O Thor, de Chris Hemsworth, vive seu momento mais genérico, com direito a algumas piadas que não soam muito orgânicas na voz do personagem que foi estabelecido nos filmes anteriores. É engraçado o recurso, mas, inegavelmente, uma forçada de barra, na tentativa de inventar maior relevância para o Deus do Trovão na narrativa. 

Evitando soltar spoilers, vale destacar que, a despeito de um conflito apático, o ponto alto acaba sendo a forma como o roteiro aborda a camaradagem da equipe, evidenciada de forma épica nas batalhas e, impecável, nas cenas leves de descontração sem os uniformes. Destaco também a beleza dos créditos finais, firmando os super-heróis dos quadrinhos como a mitologia dos tempos modernos. Há uma breve cena após os créditos finais, porém, sinceramente, achei pouco criativa, muito previsível.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário