O Alerta Vermelho da Loucura (Il Rosso Segno della
Follia – 1970)
Para qualquer um que duvide da genialidade de Mario Bava,
basta prestar atenção nesse filme, que aborda a gradual perda de sanidade de um
homem, dono de uma loja de design nupcial, que, abalado por um trauma, acaba se
tornando um assassino de noivas. De forma sutil, diferente de suas obras mais
famosas, ele demonstra sua preferência pela identidade visual, podendo ser
equiparado a outro mestre das minúcias, Alfred Hitchcock. Sem revelar spoilers,
algo verdadeiramente prejudicial na experiência com sua filmografia, eu posso
citar três exemplos, momentos que me fizeram pausar e voltar essas cenas.
Perceba como ele trabalha o vestuário do protagonista,
vivido por Stephen Forsyth, evidenciando a figura da corrente branca no cinto,
em destaque nas roupas de tom escuro, que ele usa praticamente o filme todo. Um
homem acorrentado ao trauma de sua infância. E, o mais interessante, no exato
momento em que ocorre o maior plot twist, que obviamente não revelarei, ele
está usando uma espécie de pijama, com correntes desenhadas dos pés à cabeça,
mostrando que, daquela cena em diante, não há mais possibilidade de fuga para o
personagem. O segundo exemplo ocorre na cena da escadaria, onde ele encontra
uma visão aterrorizante, que o encara ameaçadoramente. Em qualquer filme
similar, a ação seria resumida ao estabelecer da situação, porém, Bava estende
a sequência ao máximo, fazendo com que a aparição volte o olhar para ele
diversas vezes, potencializando a arrepiante estranheza e o tom de pesadelo. O
terceiro exemplo eu considero, de fato, uma aula. Já próximo do desfecho, o
sutil tremor de nervoso em uma personagem que, em teoria, não teria motivo
algum para exibir tal reação. Um detalhe que pode até passar despercebido, mas
que faz todo sentido na resolução da sequência.
A inteligência visual, essa preocupação de esteta dedicado. As
ousadias narrativas, um estilo que diretores americanos copiaram, com o devido
crédito apenas depois da morte dele, com a desculpa de estarem homenageando. É
fantástico poder ver o trabalho de Mario Bava sendo lançado em home vídeo com o
respeito que ele merece, para a apreciação daqueles que genuinamente amam o
cinema.
A Maldição do Demônio (La Maschera del Demonio – 1960)
A celebrada estreia do diretor italiano Mario Bava, deixando
um pouco de lado o personagem de Bram Stoker, ele se baseou no conto vampiresco
russo: “The Vij” de Nikolai Gogol. A atriz Barbara Steele e seus enormes e
lindos olhos ficaram para sempre impressos nas retinas dos fãs de horror. Ela
interpreta uma bruxa que, ao ser assassinada pela inquisição, tendo recebido a
máscara de tortura, coberta de pregos, por seus algozes, retorna após duzentos
anos como uma vampira para tomar o corpo de sua descendente. Um fator curioso é
que, na versão inglesa, omitiram a relação incestuosa da princesa vampira com o
irmão, Javutich.
O produtor Nello Santi queria filmar em cores, mas Bava preferiu
filmar em preto e branco, o que acabou entregando uma atmosfera mais onírica,
já que o uso generoso de miniaturas e de cenários pintados poderia ter ficado evidente
demais, perdendo um pouco da mágica fusão desses elementos. A ambientação
gótica, pendendo para o conto de fadas, acabou realçando o simbolismo de
algumas cenas. Demonstrando sua maturidade artística, já em seu primeiro
projeto, o diretor teve o cuidado de preparar storyboards, algo que não era
usual à época, o que diz muito sobre a preocupação essencial dele, desde o
início, com a identidade visual das suas obras. A trama vinha em segundo plano,
o mais importante eram as formas que ele encontrava para, driblando o baixo
orçamento, transportar suas ideias para a realidade das filmagens.
* Os filmes estão sendo lançados em DVD, pela distribuidora "Versátil", na caixa "A Arte de Mario Bava", contendo ainda: "A Garota Que Sabia Demais" e "Cães Raivosos".
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