O Enigma do Horizonte (Event Horizon – 1997)
O ano é 2047. Alguns anos atrás, a pioneira nave de pesquisa
Event Horizon desapareceu sem deixar vestígio. Agora, um sinal foi detectado e
o Comando Aeroespacial dos Estados Unidos responde. Em busca da origem do sinal
está um destemido capitão (Laurence Fishburne), sua tropa de elite e o designer
que projetou a nave perdida (Sam Neill). Sua missão: encontrar e resgatar a
espaçonave de última geração. Mas o que eles encontram é o terror de última
geração; eles precisam resgatar suas próprias vidas, pois alguém, ou alguma
coisa, está prestes a envolvê-los em uma nova dimensão de pavor inimaginável.
É possível que os cinéfilos mais dedicados tenham percebido
uma possível homenagem a esse filme no recente “Interestelar”. Talvez seja só
uma coincidência, porém, a explicação dada pelo cientista, vivido por Sam
Neill, para a teoria da dobra do espaço tempo, com uma caneta perfurando uma
folha de papel dobrada, é exatamente igual à cena da obra superestimada de
Christopher Nolan. Esse filme pouco lembrado, do diretor Paul W.S. Anderson,
tem uma trama que remete aos trabalhos de H.P. Lovecraft e a “Solaris”, de
Stanislaw Lem, que foi adaptado brilhantemente por Tarkovski, mas também tem
referências visuais claras ao “O Planeta dos Vampiros”, de Mario Bava, por
conseguinte, ao “Alien”, de Ridley Scott, ao “O Iluminado”, de Kubrick, como a
cena da nave sangrando, além de uma óbvia homenagem ao “Hellraiser”, de Clive
Barker, e, em sua discussão psicológica, ao “Planeta Proibido”, de Wilcox.
Enfim, uma colcha de retalhos muito bem selecionados, versando
sobre o leitmotiv do sentimento de culpa dos personagens, representado pelas
óbvias simbologias cristãs na nave, como sua semelhança a um crucifixo, que
compõe um roteiro que se mantém, pelo menos até o inferior terceiro ato,
intelectualmente instigante e eficiente enquanto suspense. A questão do
fascínio pelo desconhecido, ainda que ele se apresente como uma ameaça latente,
a propensão irresistível do cientista a encarar a unidade gravitacional, explorada
como uma espécie de portal do inferno de Dante Alighieri, buscando ter seus
estudos desafiados. A nave maldita como o produto tangível de um relacionamento
fracassado, no caso, do personagem vivido por Sam Neill, uma lembrança
perturbadora de sua culpa pelo fim da relação. Ao final, quando se entrega ao
mal e aceita aquele inferno como sua casa, o personagem assume não ter forças
para se redimir de seus erros.
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