segunda-feira, 25 de maio de 2015

Tesouros da Sétima Arte - "Robin e Marian"


Robin e Marian (Robin and Marian – 1976)
Além de ser consideravelmente fiel à lenda de Robin Hood, essa produção dirigida por Richard Lester conta com a irresistível química entre Sean Connery e Audrey Hepburn, que retornou às telas, após um longo hiato, pressionada pelo filho, que ficou entusiasmado com a possibilidade da mãe trabalhar com o eterno 007. Nem mesmo as usuais gags visuais do diretor, de comicidade questionável, conseguem prejudicar o bonito tema central da obra, cuja nobreza é emoldurada pela elegância da trilha sonora de John Barry.

A despeito do elemento de aventura obrigatório, a mensagem transmitida possui uma complexidade rara em filmes do gênero, um conflito adulto estruturado na recusa de um herói em envelhecer, a dor da mulher amada ao constatar que ele nunca irá diminuir o ritmo, caminhando resoluto ao encontro da morte. E, no meio desse fogo cruzado, o inquebrantável xerife de Nottingham, vivido por Robert Shaw, um velho adversário que é incapaz de ignorar a admiração que sente por aquele rebelde, um respeito entre cavalheiros, homens com cicatrizes profundas e que conseguem reconhecer, intrínseca no caráter de ambos, a impossibilidade de virarem as costas para suas convicções. O duelo final minimalista, que enfatiza a exaustão de corpos que não conseguem mais sustentar suas espadas com a desenvoltura da juventude, entrega uma emoção cada vez mais esquecida no cinema moderno, escravo do exagero.

O lindo desfecho, que não agradou ao público na época, é uma prova de como o tempo é mais generoso com as decisões criativas que vão contra o senso comum. Um público que esperava satisfazer apenas a necessidade por ação. O sacrifício da mulher, que havia entregado sua vida à igreja, decidida a impedir que seu herói, o cúmplice de tantas aventuras, sofresse com a obrigatória negação física de seus instintos. E, num ato de devoção suprema, ela percebe que não conseguiria viver sem ele. A flecha lançada, cujo destino é uma incógnita, o símbolo de uma relação que nunca aceitaria a rendição ao comodismo.  

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