Meu Pecado foi Nascer (Band of Angels – 1957)
Com certeza o filme mais melodramático do competente diretor
Raoul Walsh, um épico de ambiciosas proporções, com a bela Yvonne De Carlo
vivendo uma aristocrata que descobre ter sangue negro, sendo então vendida como
escrava para o personagem de Clark Gable, um rico comerciante de algodão cujo
passado esconde o arrependimento que serve de força motriz para suas ações.
Sidney Poitier interpreta o escravo culto, criado com carinho por seu senhor
desde a infância, um elo que o perturba sobremaneira, já que seria mais fácil
odiar alguém que o desprezasse. Esse conflito existencial é o elemento mais
eficiente da obra, conduzindo para o terceiro ato, onde os dois caminhos se
cruzam no turbulento início da Guerra Civil, resultando em um duelo de
sentimentos.
O roteiro evita os estereótipos, facilitando o investimento
emocional nos arcos narrativos. Todos os personagens possuem motivos bem
delineados para suas atitudes, desde os momentos de nostalgia infantil captados
nas primeiras sequências, até o desfecho simbólico de renascimento nas águas,
com o casal deixando definitivamente o passado, abraçando um novo começo. A
trilha sonora de Max Steiner alcança o equilíbrio entre o tom de grandeza e o
foco nos pequenos conflitos, um excelente complemento. É uma pena que, nas
poucas vezes que comentam sobre o filme, sempre optam pelo lugar comum de
reduzir os méritos do projeto ao compará-lo com “E o Vento Levou”, apenas pelo
contexto histórico e pelo protagonista. A história é ousada na construção dos
personagens, estruturalmente à frente de seu tempo, o que explica o fracasso de
público e crítica na época de sua estreia. É interessante perceber na trama algumas
das possíveis inspirações para o “Django Livre” de Quentin Tarantino.
* O filme está sendo lançado em DVD pela distribuidora "Obras-Primas do Cinema".
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