Links para textos sobre os filmes de Ingmar Bergman:
A Hora do Lobo (Vargtimmen – 1968)
Um pintor e sua esposa vão morar em uma ilha bastante
afastada da sociedade. Lá, em meio a intensos conflitos psicológicos, o casal
conhece um misterioso grupo de pessoas que passa a trazer angústias ainda
maiores às suas vidas, levando-os a relembrar fatos passados e questionar a
própria lucidez.
A hora do lobo, o momento na madrugada em que muitas almas
encontram o repouso final e outras despertam, tormento dos insones e daqueles
cuja consciência pesa intranquila. Pessoas como Johan Borg, vivido por Max von
Sydow, um pintor que busca inspiração para sua Arte, porém descobre-se
perseguido por erros do passado. Sua esposa Alma, vivida por Liv Ullmann,
guarda em seu ventre um ser puro, ainda intocado pela maldade, livre. O casal
vive distante da sociedade, confinados em suas próprias almas. Acredito que
Stephen King tenha utilizado esse filme como referência para seu livro: “O
Iluminado”, pois tanto Borg quanto Torrance são artistas em crise, que se
isolam e enfrentam fantasmas que os atormentam e os levam gradativamente à
loucura.
Bergman realiza essencialmente uma obra de terror, que
possibilita diversas interpretações. Você pode vê-la como uma alegoria criativa
sobre os efeitos da culpa em um ser humano, enxergando os vizinhos do castelo
como projeções de uma mente intensamente perturbada, ou como um elegante filme
sobre vampiros. Georg Rydeberg é quase um sósia de Bela Lugosi, o que não é
mera coincidência. O diretor primava por deixar implícito o distúrbio mental de
um personagem, porém, em “A Hora do Lobo”, ele faz questão de traduzir esse
distúrbio em imagens perturbadoras, como se, pela primeira vez, com o auxílio
de truques de câmera e maquiagem, estivesse decidido a fazer o público sentir o
mesmo que o personagem, o objetivo essencial de todos os bons filmes de terror.
Como em seu irmão cinematográfico: “Persona”, a trama incita o questionamento
sobre se aquela realidade vivida pelos personagens, até mesmo o espaço em que eles
habitam, sendo, por vezes, explicitamente filmado de forma surrealista, existe ou
é fruto do distúrbio.
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