Napoleão (Napoléon - 1927)
Começo o texto sendo muito sincero, não vou abraçar a
cartilha do “crítico de cinema” e tentar vender a ideia de que este épico é
maravilhoso. Abel Gance e seus filmes eram odiados por Stanley Kubrick e Luis
Buñuel, que o considerava um megalomaníaco insuportável, então estou em boa
companhia.
Ele inicialmente queria montar dez horas, retratando toda a
vida de Napoleão, mas teve que se contentar com cinco horas e meia.
Considerando que sou apaixonado pela era muda e que, por exemplo, as quatro
horas de duração de “Dr. Mabuse”, realizado cinco anos antes por Fritz Lang, passavam
rápido e, em revisão, seguem eficientes hoje, não dá para perdoar o diretor
francês por uma experiência tão absurdamente autoindulgente e entediante,
especialmente considerando a natureza fascinante do tema abordado. Ele não
envelheceu mal, os problemas já incomodavam na época. É, sim, não há como
negar, uma obra importantíssima que inovou tecnicamente, com arroubos visuais
criativos que serviram de inspiração para cineastas no futuro, instigante na
primeira hora e extremamente ousada nos quarenta minutos finais. A parte
introdutória que mostra a infância do personagem, envolvido em guerras de bolas
de neve e sofrendo na mão de dois colegas cruéis, faz uso da tela dividida como
ferramenta narrativa, algo que se repete algumas vezes, com mais efeito no
desfecho em Polyvision, sistema criado e utilizado exclusivamente neste filme, com
a projeção simultânea de três bobinas possibilitando a expansão horizontal da
imagem, além de experimentações menos orgânicas com painéis espelhados,
interessantes em teoria, mas que servem apenas para confundir o espectador e
prejudicar ainda mais a imersão. É óbvio que o recurso nada prático
dificultaria tremendamente a exibição, garantindo a dor de cabeça de muitos projecionistas.
Todo apaixonado por cinema precisa ver, ainda que
provavelmente uma única vez na vida, para se impressionar com a pioneira montagem
de cortes rápidos, múltiplas imagens sobrepostas, o ângulo "ponto de vista" alcançado colocando a câmera no cavalo em movimento, elementos que despertaram em Eisenstein,
mestre da escola soviética de montagem, o interesse em se aventurar nesta arte.
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