Chocolate (ช็อคโกแลต-2008)
É comum boa parte da crítica profissional brasileira desprezar
os filmes de artes marciais, sequer escrevem críticas negativas, simplesmente
ignoram a existência. Cinema de qualidade para eles são os projetos umbilicais
dos diretores nacionais de esquerda financiados com dinheiro público, quase
sempre, experimentos pouco refinados sobre a capacidade de tédio que o
indivíduo exposto ao material pode suportar antes de desmaiar.
A realidade é
que a arte exibida em um filme como “Chocolate”, por exemplo, requer extrema
competência, uma técnica apaixonada que, literalmente, coloca em risco a vida
do elenco. São filmes que não tentam ser avalizados por qualquer outro mérito
que não envolva a perícia coreográfica. Ao invés de filmar por cinco minutos uma
árvore de ponta-cabeça e um casal se agarrando no galho, pretensiosamente
buscando firmar uma patética imagem cult rebelde, para o deleite de meia-dúzia
de chapados da alta sociedade, o realizador do gênero se esforça ao máximo para
desafiar os limites impostos pelo baixo orçamento, invariavelmente criando
sequências que refletem o ápice técnico de cada peça da engrenagem, lotando as
salas de exibição, alimentando a indústria do país, abrindo as portas para
novos talentos e garantindo futuro para o mercado.
O tailandês “Chocolate” é impecável naquilo que se propõe a
ser, rendendo homenagens à Bruce Lee (a primeira luta de Jeeja Yanin se dá em
uma fábrica de gelo, como em “O Dragão Chinês”), Jackie Chan e Sammo Hung (a
trama se assemelha a “Coração de Dragão”), além da reverência mais explícita à
prata da casa: Tony Jaa (a adolescente vê frequentemente seus filmes na
televisão). Além de defender de forma crível o autismo de sua personagem nos
momentos mais dramáticos, algo especialmente notável levando em conta que este
foi seu primeiro trabalho, a jovem Jeeja executa o amálgama do Taekwondo que
dominava e o Muay Thai, que aprendeu especialmente para o filme, com a
segurança de uma veterana, exalando intenso carisma, equilibrando doçura e
impulsos animalescos, trabalhados com inteligência cênica por Prachya Pinkaew e
pelos coreógrafos liderados por Panna Rittikrai, que ganhou maior
reconhecimento em “Ong-Bak”, cinco anos antes.
É difícil superar o brilhantismo
de sequências como a da batalha no frigorífico, com a utilização generosa de
todos os elementos disponíveis no cenário, além de uma boa dose de humor, mas o
filme entrega na meia-hora final o momento que já entrou para a história do
gênero, uma elaborada batalha que abraça a ruptura emocional definitiva da
protagonista, avançando a narrativa e encontrando novas possibilidades para
promover catarse visual, conduzindo o conflito do confinado Dojô do vilão para
o telhado de um prédio.
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