Martin (1977)
Injustamente pouco conhecida pelo público
geral, considero a mais inteligente utilização do tema, amalgamando em sua
essência todos os elementos do mítico personagem do vampiro.
Há a clara crítica aos preceitos religiosos, na
figura do primo mais velho do jovem, mas existe um aspecto que poucos
percebem, evidenciado na cena do ataque inicial no vagão do trem. Um livro,
mostrado em destaque um par de vezes: “Beyond Freedom and Dignity”, “Para Além
da Liberdade e Dignidade”, do filósofo B.F. Skinner, título inspirado nos
trabalhos de Nietzsche e Freud, um estudo sobre como a chamada liberdade
tradicional é limitada, propondo então uma definição que fugisse do senso comum
de condições que impediriam os sujeitos de conhecer os inúmeros determinantes
envolvidos no controle dos comportamentos chamados de livres e dignos, um
trabalho que define os anseios do protagonista, vivido por John Amplas, que bebe o sangue de suas vítimas e afirma ter oitenta e quatro anos, apesar de sua aparência jovial. Ele não possui presas pontudas e debocha da figura
caricatural do vampiro, como na cena em que assusta o primo mais velho, vestido
como o conde da Transilvânia. Com a utilização de flashbacks, inserindo o jovem
na realidade que ele defende, o roteiro deixa a dúvida sobre a sanidade mental
do personagem, alguém que busca, mais que tudo, se encaixar na sociedade.
O tratamento intenso e realista potencializa a tragédia do jovem, com o roteiro inteligentemente evitando qualquer personagem que represente um referencial moral, subvertendo até a figura do padre católico, vivido pelo próprio diretor. Obra-prima de George Romero, perfeita do início à última frase dita, já nos créditos finais.
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