El Mariachi (1992)
Jovem mariachi chega a vilarejo no México e é confundido com fugitivo da
prisão. Por causa das semelhanças, se vê envolvido com criminosos.
A conversa nas rodas de cinéfilos nas locadoras de vídeo em
1995 era: “Você já viu El Mariachi? ” O gerente contava que um cliente tinha
devolvido a fita antes do tempo, reclamando que parecia trabalho amador. Este
comentário, para um jovem que à época estava entrando de cabeça nas produções
mais obscuras de terror, despertava o desejo profundo de ver o filme. Quanto
menos recursos o diretor tinha, melhor! Após aguardar algumas semanas,
finalmente consegui levar para casa o famigerado estojo preto com o tesouro
dentro.
Eu lembro da gargalhada que soltei na cena do bar, quando o mariachi
(Carlos Gallardo) se oferece para cantar no estabelecimento, mas o dono despreza
sua arte apontando para um pobre coitado sentado na frente de um teclado
vagabundo, dizendo: “Por que eu iria querer um mariachi, se tenho uma banda completa?
” A forma como o diretor, Robert Rodriguez, opta por trabalhar o timing cômico,
acelerando a imagem, potencializando a mediocridade do tecladista e a
frustração do mariachi, dá o tom perfeito da obra. É leve, descontraído,
agitado, descompromissado. Rodriguez inicialmente buscava apenas o mercado mexicano
de vídeo, não imaginava que seria visto em seu próprio país. Com dinheiro de
pinga e a forte crença de que a melhor escola de cinema é a prática, o rapaz
acreditou em seu sonho e ganhou fama mundial. Sem o equipamento técnico de
ponta das grandes produtoras, algo que era motivo de preconceito, ele não
esperou incentivo financeiro, simplesmente identificou tudo o que poderia
utilizar na criação da história e colocou a mão na massa. Como ele diria, anos
depois, “a falta de dinheiro é, criativamente, uma bênção”. Pela primeira vez,
Hollywood aplaudia um herói de ação latino-americano que obedecia a uma
estética própria, que não parasitava elementos reconhecíveis no gênero. Em
2012, o projeto foi selecionado para preservação no National Film Registry of the
Library of Congress, por sua importância cultural e histórica.
O sucesso de “El
Mariachi” fez com que os produtores norte-americanos investissem alto em sua
releitura “A Balada do Pistoleiro”, protagonizada por Antonio Banderas e Salma
Hayek, que, curiosamente, não envelheceu tão bem quanto seu irmão pobre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário