Link para os textos do especial “Rebobinando o VHS”:
Todo mundo comentando sobre o Justiceiro na série do
Demolidor na Netflix, mas, sinceramente, esse vigilante marrento é personagem
da Disney perto do anti-herói John Eastland, vivido por Robert Ginty nessa fita
esquecida do início da década de oitenta. Nunca foi lançada por aqui em DVD e
provavelmente nunca será. O terrível politicamente correto impede que seja
exibido na televisão aberta, na minha época era figura carimbada no vespertino “Cinema
em Casa” do SBT. Aluguei muito na fase de ouro do VHS.
Exterminador (The Exterminator – 1980)
Veteranos de Guerra do Vietnã, John e Michael agora
trabalham como estivadores num depósito que fica no bairro pobre do Bronx.
Certo dia, Michael flagra uns folgados saqueando cerveja de um dos depósitos
onde trabalha e dá uma lição neles. Poucas horas depois, ele é brutalmente
atacado pelos mesmos marginais, sendo apunhalado e surrado. Acaba no hospital,
paralítico. John sai então às ruas para limpar a cidade dos bandidos.
A única cena do filme que eu lembrava, antes de rever pra
esse texto, aquela decapitação que ocorre logo no início, mérito do supervisor
de efeitos especiais Stan Winston, continua um gore muito eficiente, dando o
tom do filme. O protagonista serviu de inspiração para Kurt Russell compor o Snake
Plissken do cultuado “Fuga de Nova York”, de John Carpenter. Produzido pela
Avco Embassy, especialista em filmes de baixo orçamento, lançou muita bobagem,
mas também distribuiu pérolas como “A Primeira Noite de Um Homem”, “Primavera
Para Hitler”, “Scanners”, “Grito de Horror” e o já citado “Fuga de Nova York”.
É exatamente o tipo de abordagem, nada polida e estupidamente violenta, que faz
falta nos anti-heróis do cinema mainstream atual, idealizados para
adolescentes. O roteirista/diretor James Glickenhaus é responsável pelos
medianos “Dupla Fatal”, “Um Tira Implacável” e pelo bom “O Ultimato”, não é tão
incompetente quanto “O Exterminador” faz parecer. Os excelentes primeiros dez
minutos, que parecem enxertos de um projeto melhor, ambientados na guerra do
Vietnã, são filmados na mesma locação onde o ator Vic Morrow sofreria o
acidente fatal horroroso com um helicóptero, em um dos contos de “Além da
Imaginação – O Filme”.
A sequência da tortura do bandido preso em cima de um
triturador de carne é a prova cabal da sutileza da obra. Mas nada seria mais sutil
que o vigilante adentrando brutalmente numa festinha dos marginais, ao som de
Disco Inferno (burn, baby burn), com seu lança-chamas. Infelizmente, como ele
havia sido usado na cena anterior, em um interrogatório amistoso, o bochechudo
anti-herói decide usar uma metralhadora gigantesca. E, pra não chamar muita atenção,
ele carrega a arma até a porta devidamente ensacada, afinal, os vizinhos podem
pensar que ele toca violoncelo, né? Nas paredes dos marginais, além das óbvias
pichações sem sentido de toda gangue criminosa dos anos oitenta, fotos de Che Guevara
e Bruce Lee. Realizado dois anos depois de “O Franco-Atirador”, com aquela
trama densa sobre os traumas psicológicos dos veteranos da guerra, Glickenhaus
insinua timidamente abordar o tema, mas acaba se deixando levar pela ideologia
reacionária dos filhos de “Desejo de Matar”, onde os veteranos punem os jovens
drogados das ruas seguindo a crença de que eles não merecem desfrutar da
liberdade conquistada pelo esforço deles nos campos de batalha.
Vale ressaltar que foi produzida uma sequência: “Exterminador
2”, dirigida por Mark Buntzman, produtor do original, com Ginty reprisando o
personagem, que utiliza com mais frequência o lança-chamas, praticamente se
transformando em um herói de quadrinhos. Com a mão podre do picareta estúdio
Cannon, o resultado conseguiu ser tão ruim que faz o original parecer uma
obra-prima. Eu gostava mais da capa do VHS, com o protagonista desenhado num
traço idêntico ao das cartelas dos bonecos “Comandos em Ação”.
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