Amor por Direito (Freeheld - 2015)
No primeiro ato, quando as encantadoras primeiras tentativas
de flerte da jovem Stacie dividem espaço com uma entediante exposição do
trabalho policial de Laurel, torci para que a câmera esquecesse qualquer
subtrama e se mantivesse o maior tempo possível extraindo daqueles rostos
aquela ternura. O que os diálogos pouco inspirados falham em estabelecer é compensado
pela cumplicidade verossímil que exala nos silêncios.
O romance entre as duas protagonistas é tão bonito, a
química entre Julianne Moore e Ellen Page flui de forma tão orgânica nas cenas,
que relevei o pouco desenvolvimento dado a cada personagem no roteiro, a
estrutura convencional melodramática que combina com o piegas título nacional, com
direito até à clássica montagem do casal sorridente caminhando na areia de uma
praia, nada disso afetou a experiência emocional, nem arranhou o mérito maior
da obra, a opção por deixar o drama pessoal em segundo plano, abordando com
maior atenção a importante questão da luta pelos direitos civis dos
homossexuais, sem filmar o relacionamento com o usual verniz fetichista, uma
atitude que foge da zona de conforto que as cinebiografias costumam abraçar. É
uma linda história de amor baseada em um corajoso caso real, apenas isso, sem necessidade
de rótulos.
Gosto da forma como o diretor Peter Sollett, do bom e pouco
citado “O Verão de Victor Vargas”, quebra todas as expectativas, sem nunca pender
por muito tempo em algum dos vários subgêneros que a trama toca. Quando parece
que estamos diante de um dramalhão lacrimoso, uma reviravolta nos leva de
encontro ao obstáculo desumano dos conselheiros, que tentam impedir o benefício
da pensão, em um típico filme de tribunal onde a racionalidade bloqueia
inteligentemente a catarse emotiva, conduzindo o choro contido até um
potencializado rompante de revolta. Ao fazer isso, desarmando todas as reações antecipadas
pelo espectador, os sentidos nos levam a tatear no escuro, com atenção redobrada
na sutileza dos olhares e nos pequenos gestos das atrizes.
É uma pequena joia imperfeita, eficiente
na condução de sua mensagem, ainda contundente e relevante, que é transmitida
com a elegância daqueles que possuem a verdade nas mãos.
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