Promessas de Guerra (The Water Diviner - 2014)
Quem conhece meu estilo nas críticas de estreias sabe que
não sou um contador de sinopse, linhas que o interessado pode encontrar em
qualquer veículo, não me sinto estimulado a prejudicar a experiência do leitor,
ou subestimar sua inteligência, porém, faço questão de ressaltar que, para um
melhor aproveitamento da trama desse filme, especialmente o primeiro ato, vale
estudar sobre a Campanha de Galípoli, que, aliás, já rendeu um ótimo filme na
década de oitenta, dirigido por Peter Weir.
Não são todos os bons atores que conseguem surpreender na direção, Russell
Crowe não é Charles Laughton, nem mesmo Mel Gibson, ainda que suas intenções
sejam claramente honestas, falta ao neozelandês, trocando em miúdos, o
necessário desapego estético em favor de um foco mais dedicado ao
desenvolvimento dos personagens, um interesse menor em forçar a mão de verniz
nas cenas, artifício que exala apenas a insegurança do cineasta em seu próprio
ofício. Um exemplo: o primeiro momento em que Connor (Crowe) conversa com Ayshe
(Kurylenko), no quarto da pensão dela. Sem necessidade alguma, a utilização da
câmera transforma uma cena intimista, onde o diálogo deveria ser o elemento
mais importante, em um pretensioso balé de equívocos, alternando reflexos no
espelho que culminam em problemas amadores de continuidade, além de uma risível
constatação da canastrice da atriz, que parece ser incapaz de transmitir o
subtexto de maneira minimamente sutil. Quando ocorre a convencional subtrama
romântica, que flui de forma irritantemente canhestra, a beleza que havia no
conflito existencial do pai em busca dos filhos perdidos, leitmotiv épico por
si só, que incita uma válida discussão sobre a importância do indivíduo em uma
guerra, acaba dando lugar a uma improvável relação amorosa de folhetim que
dilui o pouco interesse que havia sido estabelecido nos primeiros vinte minutos
da obra.
Outro artifício que soa ingênuo, culpa do roteiro de Andrew Knight e Andrew
Anastasios, e acaba prejudicando a imersão, uma repetição de um flashback que o
protagonista não vivenciou, em suma, uma solução apelativa de melodrama que
abusa da suspensão de descrença do espectador. E nas poucas vezes em que a
emoção parece brotar de forma natural, a direção descarta, de forma consciente,
favorecendo novamente o verniz, alicerçado em um relato histórico de fidelidade
bastante questionável. A atuação do próprio Crowe é o ponto alto, visivelmente
motivado a contar essa história, mas não é o suficiente.
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