O Monstro da Lagoa Negra (Creature from The Black Lagoon – 1954)
Jack Arnold é um diretor cujo valor é pouco lembrado
atualmente. O responsável por “A Ameaça Que Veio do Espaço”, realizado no ano
anterior, e a obra-prima “O Incrível Homem Que Encolheu”, de 1957, era um
apaixonado por cinema de gênero. É interessante perceber que o tema de boa parte
de seus filmes envolvia o combate aos estereótipos e a compaixão pelos rejeitados.
Em “A Ameaça Que Veio do Espaço”, numa época em que a
indústria estimulava a analogia entre os invasores comunistas e os invasores
espaciais, os alienígenas eram pacíficos e desejavam apenas retornar para o
planeta natal. O monstro, Gill-man, não intenciona atacar os humanos, ele
apenas se defende, quando descobre que eles estão invadindo seu território e
realizando experiências que matam a vida marítima. Em uma época onde a temática
ecológica não era discutida, o roteiro, inspirado generosamente em “King Kong”,
aborda com clareza ideológica o desrespeito dos humanos com o ambiente da
criatura.
A paixão da fera pela bela, vivida por Julie Adams, é
representada na cena mais famosa, que mostra a jovem nadando e sendo
acompanhada, numa espécie de dança submarina, pela criatura. Acho uma tremenda forçada
de barra imaginar que esse momento tenha sido a inspiração para os ataques do
tubarão de Steven Spielberg, como muitos críticos afirmam. É a mania de querer
agregar valor a uma obra obscura, dizendo que um grande sucesso mainstream a
copiou. O filme de Arnold possui valor próprio, inegável. Acho mais
interessante relembrar a opinião da personagem de Marilyn Monroe após assistir
ao filme, em “O Pecado Mora ao Lado”, realizado no ano seguinte, onde ela
afirma que sentiu pena do solitário monstro, que precisava apenas de um pouco
de atenção e carinho. A inserção dessa cena na obra de Billy Wilder já
evidencia o impacto cultural do filme em sua época.
O último grande clássico de terror da era de ouro dos
estúdios Universal, ainda eficiente, com uma boa trilha sonora composta por
Hans J. Salter, Herman Stein e Henry Mancini, um tema marcante que inspirou
várias trilhas do gênero nas décadas posteriores. Um filme que merece ser
redescoberto, superior aos celebrados: “Drácula” e “A Múmia”.
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