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Ace Ventura 2 – Um Maluco na África (Ace Ventura: When Nature
Calls – 1995)
Considerando o apreço pelo primeiro filme, que acabou ganhando
um status de cult, a corajosa constatação de um guilty pleasure, como medir
nessa escala de vergonha o apreço ainda maior pela sequência inferior, que
mantém o status de desprezível? Eu tenho o filme na minha coleção, e, como se isso
não bastasse, em Blu-ray!
O péssimo diretor Steve Oedekerk, de “Kung-Pow: O Mestre da
Kung-Fu-São”, que faz Tom Shadyac parecer Orson Welles, em comparação, salvo
pela incrível capacidade que Jim Carrey tem de transformar até a cena mais tola,
sem nexo e mal escrita, em algo genuinamente engraçado. O roteiro é infantil,
perto de algumas ousadias do original, como o vilão travesti vivido pela linda
Sean Young. O tom, desde os primeiros minutos, é mais leve, com piadas que
satirizavam outros filmes, um recurso preguiçoso que domina o primeiro ato. Quando
o herói defensor dos animais chega à África, a brincadeira com o gênero
policial dá lugar a uma brincadeira, ainda mais divertida, com o gênero de
aventura. E sobra espaço até para uma piada interna com morcegos, antecipando a
participação de Carrey, no mesmo ano, como o vilão de “Batman Eternamente”.
O primeiro tem cenas hilárias e algumas bastante ofensivas,
porém, com certeza, todas as melhores referências que eu tenho do personagem,
ao puxar pela memória, estão no segundo. Eu acho brilhante a cena em que
Ventura ensina o outro lado da moeda ao arrogante marido de uma orgulhosa
adoradora dos casacos de pele. É tão absurda, e, ao mesmo tempo, intensamente
crítica, que me faz lembrar o material do grupo Monty Python. Gosto demais
também da cena onde o herói atrapalhado vive a experiência de ser um bebê
rinoceronte, para o espanto dos espectadores próximos. E como esquecer o ritual
de sedução da jovem da tribo, impressionada com a perícia do exótico personagem
ao assoprar bolinhas de papel num pobre coitado que se equilibra em um toco? As
referências vão se multiplicando, enquanto a memória vai resgatando esses
momentos. Em suma, o projeto é extremamente eficiente naquilo que se propõe.
E, para finalizar essa revelação, compartilho com você, caro
leitor, querida leitora, um dos momentos mais bacanas que vivi como
profissional da área. Em uma coletiva para imprensa, do fraco filme “Os
Pinguins do Papai”, tive a oportunidade de registrar o meu encontro com o ator,
extremamente simpático e atencioso. Eu poderia ter conversado brevemente com
ele sobre seus projetos mais audaciosos, complexos, como “O Show de Truman”, “O
Mundo de Andy” ou “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”. Adivinhe sobre
qual filme comentei com ele, segundos depois dessa foto?
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