O grande problema do Oscar é ter se tornado, aos olhos do
mundo, o símbolo maior de tudo o que representa o cinema. Na realidade, a
premiação não diz quase nada sobre a beleza da Sétima Arte. O brasileiro,
aquele que não valoriza cinema como algo mais que entretenimento fútil,
aproveita a farra que antecede o evento, participa de bolões, chega até a
discutir sobre os filmes indicados. No dia da cerimônia, na falta de estofo
cultural sobre o tema, ele perde mais tempo analisando os vestidos no tapete
vermelho, as gafes cometidas, a plástica no rosto da atriz, os memes, enfim,
tudo o que não é cinema. Quase sempre, sem nenhum interesse, dorme antes da
metade da exibição. O tema já perdeu o valor que havia como status de
elegância, é assunto de ontem, não irá nem comentar no trabalho. A Sétima Arte
volta a ser, para esse brasileiro, simples futilidade que ele adquire nas
bancas dos camelôs, para assistir quando não tiver nada melhor na televisão,
entretenimento inofensivo para passar o tempo, enquanto aguarda a chuva estiar.
Um longo ano irá se passar até que ele volte a se interessar por aquilo.
O brasileiro que trata o cinema exatamente como lida com a
política. Em época de eleição, ele se torna politizado, discute o tema nas
rodas sociais, esbraveja seus direitos, quase sempre se esquecendo dos deveres.
Na falta de estofo cultural sobre o tema, embarca em qualquer teoria de
conspiração compartilhada nas redes sociais, fazendo piada com a roupa dos
políticos, com as deficiências físicas, enfim, tudo o que não é política. Assim
que pressiona o botão da urna, aquilo já se tornou assunto de ontem. Ele volta
então a programar seu cérebro para o senso comum: todo político não presta;
motivo que o leva a não ler absolutamente nada sobre o tema durante o longo
ano.
Claro que o ignorante político é tremendamente mais danoso à
nação que o ignorante cinematográfico, porém, o segundo é sintomático de uma
das causas que levam à criação do primeiro: o total desinteresse pela cultura,
a satisfação com o raso e a priorização do “ter”, ao invés do “ser”. Cultura é
fundamental no forjar de um cidadão consciente. Como querer um povo politizado,
quando ele não lê, não se importa com cinema, só gosta de farra, não é pontual
e só pensa em levar vantagem em tudo? Não adianta pensar em modificar governos,
quando o cidadão não modifica suas atitudes diárias. O reflexo no espelho será
sempre fiel ao monstro que se posiciona na frente dele. Ame a cultura, aprimore
o “ser”, estude a memória da Sétima Arte, leia os grandes pensadores, acaricie
sua mente com a mesma dedicação que o faz pagar altas somas nas academias de
ginástica. O corpo se esvai rápido, o conhecimento se mantém e pode ser
transmitido, eternizando-se em seus filhos, seus netos, seus amigos. Aprendi
isso com o cinema.
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