sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

O Centenário de Kirk Douglas

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Assim Estava Escrito (The Bad and The Beautiful – 1952)
O roteiro de Charles Schnee, baseado na obra de George Bradshaw, relata a ascensão e queda de um poderoso e tirânico magnata de Hollywood, abordando como eram feitas as produções atrás das câmeras, o funcionamento e a atmosfera no mundo do cinema. Um cenário rico que já foi explorado em grandes filmes, como “O Jogador”, de Robert Altman, e “A Noite Americana”, de François Truffaut. O diretor Vincente Minnelli, antes de iniciar carreira em Hollywood, sentia que os musicais estavam dominados por clichês, e ele passou a maior parte da década de 1930 revitalizando o gênero nos palcos de Nova Iorque. Por isso, quando o lendário produtor Arthur Freed o retirou da Broadway em 1940, ele fez um acordo incomum: Minnelli iria simplesmente observar (sendo remunerado) nos bastidores de uma produção musical por um ano. Caso ele não se convencesse de que havia possibilidade de revitalizar o gênero, ele voltaria para os palcos. O resultado: ele criou nos anos seguintes alguns dos melhores musicais da história do cinema. A experiência que ele obteve durante aquele ano, como observador nos bastidores da indústria, serviu como modelo para o excelente “Assim Estava Escrito”, um estudo antropológico sobre essa fábrica de sonhos. 

O personagem de Kirk Douglas é uma versão do produtor David O. Selznick, um homem intensamente criativo e apaixonado pela Sétima Arte, que inspirava lealdade e ódio, sabendo manipular qualquer pessoa que necessitasse para seus objetivos. Ele é megalomaníaco, tem um senso distorcido de moral e desconhece o conceito de ética profissional, mas sabe como mover a engrenagem do sucesso, ele reconhece a beleza que nasce do atrito artístico. A trama segue os pontos de vista de três desafetos do produtor, uma atriz (Lana Turner), um roteirista (Dick Powell) e um diretor (Barry Sullivan), totalmente desinteressados em ajudar o protagonista em uma crise financeira. A linda fotografia de Robert Surtees, em preto e branco, capta a melancolia da morte daquela velha Hollywood, como em “Crepúsculo dos Deuses”, que também fazia uso da narrativa alicerçada por flashbacks. É interessante como Minnelli encontra nobreza até mesmo nas atitudes mais equivocadas do personagem, quase como se ele enxergasse suas atitudes como um mal necessário para sobreviver na indústria, algo que só é possível ser transmitido com o auxílio de um competente ator. Kirk Douglas compreende as motivações de Jonathan Shields, enriquecendo sua caracterização ao nunca pender para a caricatura odiosa.


O Malabarista (The Juggler - 1953)
Kirk Douglas executa aqui o melhor trabalho de sua carreira, infelizmente em um filme praticamente desconhecido. Um drama minimalista com enfoque psicológico que aborda corajosamente, ainda mais para a época, as perturbações que acompanhavam as vítimas da guerra em seu lento retorno à vida rotineira. Ele vive Hans, um judeu sobrevivente de um campo de concentração que tenta recomeçar em Israel. Perceba a intensidade de emoções que ele deixa transparecer em seus olhos e sua extrema competência nas cenas em que atua como palhaço e titereiro. Foi o primeiro filme americano a ser rodado em Israel, mas o roteiro acerta ao manter-se centrado no drama do protagonista, ao invés de, como era usual, transformar-se em um cartão postal de suas locações. Uma produção dirigida com sensibilidade por Edward Dmytryk, com o padrão de excelência e consciência social do produtor Stanley Kramer. O roteiro de Michael Blankfort, adaptando seu próprio livro, consegue extrair tensão do silêncio, evidenciando as cicatrizes existenciais que dificultam a reinserção do protagonista na sociedade. 
Comentários
1 Comentários

Um comentário:

  1. Quanto a Kirk Douglas: Tão intenso em qualquer papel que estava sempre no limite do grande ator com o careteiro. Grandes diretores tiravam o melhor dele: Billy Wilder (A montanha do 7 abutres), William Wyler (Chaga de Fogo), John Sturges (Gunfight at OK corral),além dos citados no texto.Quanto a Minelli, coloco Um americano em Paris ao lado de Cantando na Chuva como os melhores musicais que tive o prazer de ver.

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