terça-feira, 6 de dezembro de 2016

"Férias Frustradas de Natal", de Jeremiah Chechik


Férias Frustradas de Natal (National Lampoon’s Christmas Vacation – 1989)
A indústria de Hollywood já produziu diversos filmes com a temática natalina, mas é difícil encontrar roteiros realmente bons, para cada pérola como “A Felicidade Não Se Compra”, de Frank Capra, existem cinco bobagens inofensivas e/ou constrangedoras. Ao ler o conto original escrito por John Hughes, “Christmas 59”, inspirado nas lembranças de infância do querido e saudoso poeta da juventude, você sente a ternura nostálgica por trás de todas as peripécias cômicas. A adaptação consegue inserir esse tom mágico, especialmente na sequência que mostra o desastrado protagonista, vivido por Chevy Chase, preso no sótão da casa após tentar esconder os presentes dos filhos. Ele então encontra um velho projetor de Super 8, com um registro em vídeo de um Natal de sua adolescência. Ao som da belíssima “That Spirit of Christmas”, na voz de Ray Charles, vemos o personagem vulnerável, humano, algo raro na franquia, genuinamente emocionado com o resgate. A resolução hilária da cena não consegue apagar a pureza do sentimento. 

As loucuras da família Griswold para alcançar seus objetivos nunca foram tão bem fundamentadas, Clark, insatisfeito profissionalmente, desejava desesperadamente reencenar a atmosfera da cerimônia de outrora como forma de tentar revisitar a paz de uma época livre de maiores preocupações. Não é simples saudade do ritual coletivo, ele adentrou o universo da maturidade cheio de sonhos e descobriu que a estabilidade profissional é uma prisão elegante. Da mesma maneira que a jornada para visitar o parque “Walley World” no filme original, o leitmotiv do desconforto do adulto com o sistema entrega camadas de interpretação que engrandecem a obra. A frustração com o bônus financeiro tão aguardado acaba explicitando o descaso, a falta de empatia do patrão com o empregado, apenas mais um número na estatística da empresa, alguém cujo nome é frequentemente trocado sem qualquer senso de remorso. Outro ponto bonito que pode passar despercebido é a evolução na relação entre Clark e seu aborrecido sogro, a figura que sempre tem algo depreciativo a dizer, como ao desconsiderar todos os esforços dele na montagem da iluminação externa, mas que, no apoteótico final, quando mais uma vez a família se vê envolvida em um crime, faz questão de ser o primeiro a se levantar do sofá para o apoiar. Vale ressaltar a direção segura de Jeremiah Chechik, em seu primeiro trabalho, comandando com tranquilidade um elenco de peso, com veteranos respeitados como John Randolph, E.G. Marshall, Mae Questel, Diane Ladd e Doris Roberts, dividindo espaço com jovens talentos que viriam a ser reconhecidos na área, como Juliette Lewis e Johnny Galecki. 

Uma comédia deliciosa que segue eficiente após várias revisões, um jovem clássico no gênero, obrigatório nessa época do ano.
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