1 - As Aventuras de Pi (Life of Pi), de Ang Lee
"... Pi foi uma criança indiana extremamente curiosa, como todas,
disposta a não se contentar com apenas uma explicação para os muitos mistérios
da vida. Com sua ingenuidade, aventurava-se nas histórias fantásticas que sua
mãe lhe contava sobre os deuses do hinduísmo. Em uma atitude inconsequente,
típica da idade, acaba conhecendo um porta-voz do catolicismo, que desnorteia
sua mente ao inserir a presença de um único "Deus", que havia enviado
seu filho à Terra, para que sofresse pelos seres humanos, atitude que o menino
considera ilógica. Ainda não satisfeito, o menino abraça o islamismo, fascinado
por seus rituais. Ao ser questionado, afirma com convicção que a fé é uma
"casa de muitos quartos". Esses "quartos" podem possuir
estilos arquitetônicos diferentes, serem pintados de cores radicalmente
contrastantes, porém estão inseridos em uma mesma "casa". As
religiões foram formas que os homens criaram para tentar entender o
inexplicável, iluminar a escuridão, que com o passar dos séculos, com a ajuda
da ciência, torna-se cada vez menos amedrontadora. Todas elas são nascidas da
mesma dúvida, do mesmo essencial questionamento: Quem nós somos? De onde
viemos? Para onde vamos?..."
2 - Holy Motors, de Leos Carax
"... O homem afirma que todos estão reclamando do evidente
cansaço do ator: "Alguns não estão mais acreditando no que estão
vendo". Ele então responde: "Sinto falta das câmeras. Elas eram mais
pesadas que nós, depois elas ficaram menores que nossas cabeças, mas hoje nem
dá para vê-las mais. Eu também acho difícil acreditar em tudo isto". O
homem complementa afirmando que bandidos não precisam perceber as câmeras de
segurança, para acreditarem que elas estão lá para flagrá-los no ato criminoso.
O homem confronta em seu argumento a crença do diretor, representado pelo ator,
nostalgicamente preso em uma realidade que não existe mais, questionando-o
sobre a razão que o faz persistir no trabalho, mesmo desmotivado com este
admirável mundo novo. O ator responde: "Aquilo que me instigou a iniciar
nele, a beleza inerente à atuação". Beleza esta que é subjetiva e
necessita de pessoas interessadas, capazes, em percebê-la,
valorizá-la. Sem um público qualitativo, criterioso, o soar da salva de
palmas representará apenas a consequência sonora e mecânica do choque entre
duas mãos..."
3 - A Separação (Jodaeiye Nader az Simin), de Asghar Farhadi
"... O roteiro de Farhadi não é sobre os costumes de um povo, o
drama familiar de uma separação conjugal, muito menos sobre com quem uma filha
irá decidir ficar. O que está em jogo é algo de apelo universal: o
questionamento de um modo de vida, colocando luz intensa nos cotidianos rituais
que nos desumanizam. Nada nos é explicado sobre a relação de Nader e Simin,
somente somos levados a crer que havia extrema cumplicidade entre ambos e um
agradável ambiente familiar. Ela busca ir embora, mas a trêmula mão do sogro,
num estágio avançado de Alzheimer, tenta impedir. Nos momentos em que se sente
indefeso, o fragilizado senhor chama repetidamente pelo nome da
nora. Termeh, a abnegada filha pré-adolescente, se mantém próxima do pai,
pois sabe que sua mãe nunca a deixaria. Enquanto ela se mantiver com seu pai,
Simin poderá levar embora todos os seus pertences materiais, mas deixará seu
coração, o que a fará eventualmente retornar. A mãe (reparem na forma como
o figurino revela seu desejo por livrar-se do ritual, mostrando sua
silhueta em tons coloridos e optando por uma calça jeans) busca proteger sua
filha, encaminhando-a para um futuro de mais possibilidades em outra cultura.
Ficar ao lado do pai é abraçar o passado, encontrando como mulher o conforto
possível nas lacunas de sua religião..."
"... Scorsese entrega uma preciosidade atemporal, homenageando o legado inestimável do pioneiro Georges Méliès, resgatando a inocência elegante de um período em que a indústria cinematográfica respeitava mais o público infantil. Somente o cineasta, com seu belo caso de amor com a sétima arte, poderia ser capaz de adaptar a sensível obra de Brian Selznick..."
"... O roteiro
é simples, o que facilita a inserção do maior número possível de exibições
da técnica em lutas demoradas. A princípio, parece que se trata de mais um
filme de ação no estilo americano, mas quando as metralhadoras são substituídas
pelos punhos, percebemos que estamos diante de um novo clássico no gênero, obedecendo regras próprias..."
"... As imagens que resistem na mente após a sessão não são do
desastre em si, mas daqueles belos momentos em que completos estranhos se unem
em perfeito uníssono na batalha catártica pela vida. Um dos melhores filmes em seu subgênero..."
Nenhum comentário:
Postar um comentário