quinta-feira, 28 de julho de 2016

Rebobinando o VHS - "Trapalhões do Futuro"

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O VHS foi lançado pela distribuidora “Video Ban”, que primava por produções medíocres ou irrelevantes, aquele material que deveria ser exibido com um formal pedido de desculpas introdutório. Eu devo ter alugado a fita umas duas vezes, mas foi o bastante para deixar em minha mente essa recordação tão viva, fecho os olhos e a imagem dos gêmeos aparece, tento controlar a ânsia de vômito pensando em coisas mais agradáveis como corretores de imóveis e as instalações da Vila Olímpica. 


Trapalhões do Futuro (Slapstick of Another Kind – 1982)
Caleb Swain (Jerry Lewis) e a esposa Lutetia (Madeline Kahn) são um casal adorado por todos. Mas tudo muda quando Lutetia dá à luz um casal de gêmeos horrorosos. Eles são Wilbur e Eliza (também interpretados por Lewis e Kahn), e que na verdade são dois alienígenas que foram escolhidos e enviados para resolverem os problemas do planeta. Quando eles estão separados, os dois ficam fracos e sem inteligência, mas juntos, os dois possuem um grande potencial. Infelizmente por interesse de terceiros, eles acabam sendo ameaçados de se separarem pra sempre.

Quando Jerry Lewis declara à imprensa que “The Day The Clown Cried” não merece ser visto, fico pensando que nada em sua filmografia pode ser pior do que “Slapstick of Another Kind”, de 1982, lançado apenas dois anos depois, já que ninguém parecia disposto a correr o risco. É engraçado ver que Lewis foi divulgar o lançamento do filme no programa do Johnny Carson, vídeo que pode ser encontrado no Youtube, falando dele como se fosse uma obra-prima, rasgando elogios para o jovem diretor Steven Paul, alguém que se mostra incapaz de conduzir uma única cena com algum traço de personalidade. Não é possível que ninguém da equipe tenha percebido o nível tóxico do lixo que estavam produzindo, uma obra que não serve como adaptação do bom livro de Kurt Vonnegut, trabalha algo em torno de dez por cento do material escrito, e não se sustenta minimamente como comédia.

O perfeccionista protagonista, a talentosa Madeline Kahn, os olhos desencontrados de Marty Feldman, a voz poderosa de Orson Welles, o eterno “mestre Miyagi” Pat Morita vivendo um “alienígena chinês em miniatura”, até o diretor Samuel Fuller faz uma ponta, um grupo de respeito que parece estar pagando alguma ingrata aposta. Não é só o mau gosto na trama que me impressiona, mas a incrível ineficácia de um roteiro que não consegue fazer rir em nenhum momento. O trabalho de maquiagem prostética no rosto dos irmãos gêmeos (Kahn e Lewis), sem brincadeira, traumatiza qualquer criança pequena que, por crueldade do acaso, acabe passando na frente da televisão em uma exibição. É grosseiro, tosco no pior sentido da palavra. O desfecho tenta entregar um toque de sentimentalismo, mas com a mesma mão pesada e altamente incompetente, resultando em simples, boa e velha, vergonha alheia. Quando os irmãos estão entrando na nave espacial, cópia carbono da utilizada em “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”, na escuridão da noite, o filme consegue a proeza de inserir um olhar de despedida dos pais, cena reutilizada e ambientada numa clara manhã primaveril. O que me perturba é que nada disso explica o fascínio que sinto por essa porcaria. Se lançassem um livro revelando os bastidores das filmagens, eu devoraria em uma madrugada. Já joguei fora meia-hora de um dia vendo um making of dele no Youtube. É tão ruim, tão doentiamente asqueroso, tão repulsivamente tolo, que acaba se tornando agradável. No início da década de noventa tive a impressão de que a indústria norte-americana entregaria algo similar com a comédia “Cônicos e Cômicos”, alienígenas cabeçudos saídos diretamente dos esquetes do SNL, mas infelizmente Dan Aykroyd é um bom roteirista, o filme é razoavelmente bom, não chega nem perto do brilhantismo não intencional dessa pérola que resgato aqui.

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