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Nenette, a Meia-Irmã (Demi-Soeur – 2013)
Nenette é uma senhora que tem a idade mental de uma criança
de oito anos. Após a morte de sua mãe, ela parte em busca do pai, mas acaba
conhecendo seu meio irmão Paul, um farmacêutico ranzinza.
Essa adorável comédia é injustamente pouco conhecida, sequer
foi lançada em DVD por aqui. O projeto, comandado e protagonizado por Josiane
Balasko, de “Les Bronzés”, ótima produção de 1978, também pouco conhecida pelos
brasileiros, diverte o espectador com uma trama simples, até previsível. O
roteiro toma liberdades surreais, utilizando pastilhas de ecstasy como um
artifício saído de uma obra de Frank Capra, capazes de modificar totalmente o
caráter de um personagem. É tolo, inverossímil, assim como a união da
protagonista com uma banda de metaleiros, o evento nesse road movie que dá o
gatilho para o plot twist, mas a execução é encantadora.
E funciona exatamente por causa do carisma de Balasko, com visível
inspiração em Jacques Tati e na obra de Lewis Carroll, acompanhada de sua
inseparável tartaruguinha, transmitindo toda a pureza de uma criança no corpo
de uma senhora. Michel Blanc, que vive o sistemático meio-irmão farmacêutico, evidencia
em sua interpretação a solidão como conforto imposto após vários traumas que a
trama inteligentemente não revela. Ele rejeita o carinho exagerado de sua
meia-irmã como forma de evitar o sofrimento de uma nova entrega emocional, uma
proteção que é quebrada com a adição da droga em seu organismo. Em sua
interação com o filho, o roteiro insinua que ele já foi um excelente pai, ainda
que o jovem tenha se acostumado com a faceta negativa dele.
Odiado pela crítica internacional em sua estreia, que
apontou apenas falhas, esse belo filme merece mais atenção por seus méritos.
Excelente texto!
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