Riscado (2010)
De vez em quando encontramos um filme que nos renova as
esperanças, seja na cinematografia nacional, seja em nós mesmos. Esse é o caso dessa obra, uma carta de amor para todos aqueles que tentam viver da Arte, que se
expõem aos riscos, que se dedicam a sonhar o sonho impossível.
O diretor Gustavo Pizzi emula de maneira lúdica o italiano
Federico Fellini, tendo em Karine Teles sua amada Giulietta Masina. O roteiro
simples e eficiente, escrito por ambos, retrata a realidade vivida por muitos
artistas que buscam seu lugar ao sol, sem se deixarem nunca abalar pelos vários
obstáculos e decepções, inerentes nessa árdua jornada. Novamente citando Fellini, em
alguns momentos o filme me lembrou “Noites de Cabíria”, não tanto por sua
trama, mas no amor que a câmera demonstra por sua protagonista. Karine vive Bianca, uma atriz como muitas com que nos
deparamos na vida, aceitando todas as oportunidades que aparecem e não
firam sua dignidade. Acreditando que cada uma delas, por ínfima que seja, como bater palmas para um estranho em seu aniversário, possa ser um meio que
a leve a algo melhor, ao sonhado reconhecimento de seus talentos. Cenas como a
da jovem se apresentando como Marilyn Monroe em uma festa de aniversário e
enfrentando o preconceito da filha do aniversariante, ganham em emoção devido à
veracidade que os olhos de Karine transmitem.
No elenco de apoio também encontramos forte sustentação, que
não somente nos ajuda no processo de imersão na narrativa, como a impulsiona.
Saliento especialmente Lucas Gouvêa, como Filipe, que se mostra um talento a ser
descoberto pelo grande público, conseguindo em todos os seus momentos roubar a
cena, mesmo fazendo um tipo desprezível, um personagem que em mãos menos
capazes poderia se tornar simplista, caricato. “Riscado” é o Brasil mostrando que sabe ousar, tratando de um
tema fascinante que cativa o público, especialmente aqueles que trabalham
de alguma forma com a Arte. Uma obra simples, rodada com baixo orçamento e com muito
coração.
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