quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Rebobinando o VHS - "O Analfabeto"


Escolhi iniciar o ano com essa pérola esquecida da comédia mexicana. O humor de Cantinflas, Fortino Mario Alfonso Moreno Reyes, é mais próximo do estilo de humor brasileiro, com suas tiradas irônicas contundentes, gestual circense e jogos de palavras, que serviu de inspiração para Renato Aragão, entre outros. Chaplin, numa demonstração de incrível generosidade, afirmava publicamente que o considerava o melhor comediante vivo.


O Analfabeto (El Analfabeto – 1961)
“O Analfabeto” foi meu primeiro contato com ele, o único que assisti em VHS. Somente anos depois, com o advento das facilidades da internet, pude apreciar mais obras de sua filmografia, infelizmente, ainda tratada com muito desleixo pelas nossas distribuidoras. Nem mesmo seu filme americano “Pepe”, dirigido por George Sidney, chegou a ser lançado por aqui no mercado de DVD. É uma pena que a nova geração não se interesse em resgatar esses gênios do passado.

Muito similar ao seu sucessor no México, Roberto Gómez Bolaños, nós podemos enxergar no personagem Inocêncio Preto e Calvo, preto de pai e calvo de mãe, uma característica comum a vários de seus heróis, uma alma quixotesca que faz do medo sua principal arma, corajosamente sobrepujando aqueles que buscam se aproveitar de sua ingenuidade. Confortável sob a direção do parceiro Miguel M. Delgado, no papel de um adulto que deseja aprender a ler e escrever, Cantinflas se permite liberar das amarras dos modelos clássicos de linguagem, como sempre, utilizando um figurino que não se enquadra naturalmente ao cenário em que o personagem habita, com toques que representam a dignidade e o refinamento que ele ludicamente identifica ao se olhar no espelho, simbolizando um homem à margem da sociedade. A crítica social é óbvia, como podemos ver na cena em que o herói pícaro enfaticamente afirma preferir ser analfabeto e honrado, a ser culto e agir de forma desonesta com seus semelhantes.

O humor se alterna entre gags visuais e diálogos de duplo sentido espirituosos e eficientes, com um interlúdio musical hilário, onde Inocêncio tenta impressionar sua namorada, vivida pela bela Lilia Prado, cantando em um coro de igreja. Por simples que seja, é difícil esquecer a ternura contida nas cenas em que Cantinflas, com brilho nos olhos, saúda seus pequenos colegas de classe. 

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