Entrevista com Ginger Alden / Introdução:
Ama-me com Ternura:
Quando Elvis demonstrou seu desapontamento com a inserção de
quatro canções no filme anterior, um projeto onde acreditava poder ser o início
de uma carreira como ator dramático no cinema, sua grande paixão, seu
empresário pediu que ele fizesse uma escolha. "Olha", explicou o
coronel Parker, "é muito simples. Continuamos desse jeito, nós fazemos
dinheiro. Mudamos para a sua maneira, nós não fazemos dinheiro”. Elvis estava
começando, sabia o que era a pobreza, ele queria melhorar a vida dos pais,
então abaixou a cabeça e decidiu assinar o contrato do próximo filme,
totalmente focado em canções, colorido, uma diversão despretensiosa.
A Mulher Que eu Amo (Loving You – 1957)
Deke Rivers (Presley) vem do Sul, mas ele não se adapta ao
mundo da música country. Uma promotora musical megera, interpretada por
Lizabeth Scott, reconhece o talento único do jovem e o explora como um novo
rosto que encanta o público. A mídia distorce seu encanto e o identifica como
uma pessoa temperamental até ele provar que foi tão somente um mero engano.
A trama era praticamente uma cinebiografia do próprio cantor,
que estava assustado com a rapidez de sua ascensão, com o estúdio recebendo
cerca de duas mil cartas e quinhentas ligações diárias de fãs de várias partes do
mundo. E o empresário se certificava de que todas as cartas recebessem resposta
e, na maioria das vezes, com fotos autografadas. Os pais dele, sem nenhum
envolvimento no meio artístico, batiam na porta da Paramount com a timidez de
quem está visitando um empregado comum, uma postura que reflete a humildade do
próprio Elvis. O jovem nunca recusou um autógrafo, nunca cobrou por fotos,
atitude que manteria pelo resto da vida, mas que, em uma rotina de filmagens,
acabava atrapalhando o cronograma, já que ele ficava horas atendendo as fãs.
Como forma de compensar, ele não lanchava entre as tomadas, seguia direto até o
crepúsculo do dia. Acreditando que ficaria melhor na tela grande em cores, ele
pintou seu cabelo castanho claro de preto, visual que manteve até o fim da
vida.
Foi o primeiro trabalho de Hal Kanter na direção, tendo sido
roteirista de alguns filmes de Bob Hope e Jerry Lewis. Ele voltaria a trabalhar
com Elvis, como roteirista, no sucesso “Feitiço Havaiano”. O produtor Hal
Wallis escalou dois veteranos: Lizabeth Scott e Wendell Corey, para amparar o
jovem em cena. A química entre Deke Rivers e a promotora musical, vivida por Scott,
refletia o carinho que se estabeleceu entre os dois nas filmagens. Na primeira
cena em que aparece, o pobretão Deke carrega uma caixa, com o olhar pousado no
chão, o corpo transmite sua insegurança, enquanto admira um belo carro
estacionado no local, o símbolo de estabilidade financeira. Elvis costumava
presentear desconhecidos com carros, como quando abordou uma senhora que, vestida
de forma simplória, admirava a vitrine de uma concessionária. Ele chamou o
gerente, pediu a chave do automóvel e entregou na mão da mulher.
A profunda introversão de Elvis, um dos elementos de seu
mito, é inserida nessa trama e, de forma mais eficiente, em “Balada Sangrenta”.
Seu personagem é praticamente carregado para o palco em sua primeira apresentação,
cantando de forma tímida a ótima “Got a Lot o' Livin' to Do”. A câmera se
mantém no rosto dele durante a maior parte do tempo, mostrando que a fórmula de
seus filmes estava sendo delineada, objetivando os gritos das adolescentes nas
salas de cinema a cada quebra da quarta parede, especialmente o desfecho da
canção, quando Elvis repete o olhar intimidador, marca registrada de suas apresentações
ao vivo. Já mais seguro, minutos depois, o personagem defende outra pérola do
rock: “Party”, composta por Jessie Mae Robinson, repetindo-a integralmente na
sequência seguinte, mostrando maior desenvoltura em seus movimentos no palco. Segundos
depois, uma montagem ao som de um medley com “(Let me be your) Teddy Bear”, “Got
a Lot o’ Livin’ to Do” e a fraca “Hot Dog”, evidenciando a evolução do rapaz
como músico, atravessando as estradas da nação. E, tudo isso, antes dos vinte e
cinco minutos de filme. É clara a intenção de manter Elvis cantando o maior
tempo possível, um caminho antagônico ao de “Ama-me com Ternura”. O público
respondeu bem a essa estratégia, solidificando a fórmula para os próximos
projetos.
O cantor conseguiu colocar no elenco seu trio de músicos:
Scotty Moore, Bill Black e DJ Fontana, o quarteto vocal “The Jordanaires”, além
de inserir seus pais como parte do público que aplaude ele no desfecho. Após a
morte de sua mãe, em 1958, Elvis se recusou a rever o filme. Dentre as canções
da trilha sonora, "Loving You" é uma linda balada, “Lonesome Cowboy” pode ser tola, mas a explosiva “Mean Woman
Blues” emoldura uma cena icônica que representa a rebeldia do astro em seus
anos iniciais, copiada em “Balada Sangrenta”, quando um valentão tenta
intimidar o rapaz, a quem chama debochadamente de “costeletas”, em uma
lanchonete, fazendo valer aquela máxima: não mexe com quem está quieto. Deke
simplesmente faz o valentão assistir todas as garotas, até aquela que o
acompanhava, vibrarem com seu requebrado. A cena se encaminha para uma
pancadaria no estabelecimento, elemento que se tornaria tradicional em seus
filmes seguintes, com o oponente se chocando com o jukebox, que começa a tocar
um rock, exatamente como em “Saudades de Um Pracinha”. Os filmes de Elvis, já
no início dos anos sessenta, haviam se tornado uma franquia autoreferenciável.
O ator Ken Becker, que interpreta o valentão, iria repetir o tipo em “Garotas e
Mais Garotas”, alguns anos depois.
A Seguir: “O Prisioneiro do Rock” (Jailhouse Rock)
Mais uma vez obrigada Octavio !!!!!!!!
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