quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

"Frank", de Lenny Abrahamson



Frank (2014)
Jon, vivido por Domhnall Gleason, é um músico esforçado, mas medíocre, que sofre caçando as letras de suas canções em passeios solitários pelas ruas, utilizando como inspiração qualquer elemento que atravesse em sua frente. Mesmo que seguido por míseras dezoito pessoas em seu Twitter, ele segue acreditando ser necessário detalhar sua rotina, uma ferramenta que o roteiro utiliza muito bem. Após um esforço árduo de criação, ele descobre que o máximo que havia conseguido era plagiar o trabalho de outro músico. Faltava a ele o elemento criativo do caos, que ele encontra por acaso ao presenciar a tentativa de suicídio de um artista, considerando então a possibilidade de tomar o lugar dele como o tecladista de sua banda de punk-rock. 

Esse microcosmo que parece saído de uma combinação das mentes de Lewis Carrol e Andy Kaufman, de nome coerentemente impronunciável, é formado por tipos esquisitos, como um empresário que acabou de sair de um hospício, uma jovem que simplesmente não sorri e um baixista que só fala francês. O grupo é liderado pelo enigmático Frank, vivido por Michael Fassbender, que esconde seu rosto com uma imensa e pesada cabeça de fibra de vidro, espertamente escondendo seus sentimentos com uma perene expressão infantil de alguém que se surpreende com o mundo ao seu redor. Jon tenta conduzir a banda, que realiza um som altamente experimental, para uma via mais comercial, o que permite ao roteiro inserir uma interessante crítica sobre esse dilema artístico tão comum nas mais variadas vertentes. O estranho Frank acaba se mostrando uma versão radicalmente projetada dos sonhos do rapaz, o metafórico reflexo narcisista do espelho que ele teme um dia encontrar. Revelar mais do que isso seria prejudicial para a experiência única que a obra oferece.

Com um terceiro ato surpreendentemente emocionante, esse estranho e fascinante filme do diretor Lenny Abrahamson encontra uma forma original de abordar a angústia do processo criativo, indo contra o conceito mitológico de que a loucura pode ser uma benéfica força-motriz para a Arte.

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