quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

"O Presidente" / "Massagem Cega"



O Presidente (The President - 2014)
O início do filme, dirigido por Mohsen Makhmalbaf, já deixa claro o tom de parábola, com o presidente de uma nação despótica sem nome, vivido por Misha Gomiashvili, sendo apresentado como uma caricatura capaz de assinar a permissão para diversas execuções, momentos antes de se juntar ao neto pequeno e inconsequentemente entretê-lo ordenando o ligar e desligar das luzes da cidade, traduzindo sem nenhuma sutileza o absurdo da imoralidade de um poder supremo. Quando é necessário que ele fuja, num toque esperto do roteiro, não são suas várias medalhas militares que o ajudam, mas seus talentos musicais. Mas, em outras cenas, o texto recorre ao melodrama desgastado, com o ponto mais baixo simbolizado por uma desnecessária subtrama envolvendo um prisioneiro que retorna para encontrar sua amada com outro.

O roteiro, escrito em parceria com a esposa Marzieh Meshkini, conduz o presidente, sempre acompanhado de seu neto, símbolo da pureza que ele abandonou ao optar pela ganância, a uma jornada onde terá que encarar incógnito os cidadãos oprimidos, vivenciando na pele o mal que causou. É interessante a forma como a trama, com óbvias referências ao “A Vida é Bela”, de Benigni, desenvolve a relação entre avô e neto, mostrando o ditador sendo questionado com contundência pelo pequeno; dúvidas que não soariam genuínas em uma narrativa que não fosse essencialmente fabulesca. Sua contraparte infantil, como uma flor de inocência, tentando romper o asfalto. Um road movie onde vários estereótipos atravessam a estrada do protagonista, numa intensa reavaliação de suas condutas pessoais. Uma alegoria que poderia ser mais eficiente se optasse pela sutileza, mas que ganha pontos pela objetividade de seu discurso, fazendo com que o projeto possa se tornar atraente no circuito mainstream, com sua importante mensagem atingindo um público maior.

Massagem Cega (Tui Na - 2014)
O aspecto mais interessante do filme em seu primeiro ato é a forma pouco sentimental com que o diretor aborda o tema, que nas mãos de qualquer cineasta poderia se tornar pura demagogia. Qualidade que vai se perdendo no segundo ato, quando o roteiro cede a algumas resoluções formulaicas típicas de folhetins. A frieza de seu olhar e seu completo desinteresse em satisfazer qualquer expectativa de seu público, elementos que poderiam limitá-lo em qualquer outra narrativa acabam funcionando nessa proposta, desmistificando o trabalho dessa instituição de massagistas cegos, deixando que as relações entre os profissionais fluam com naturalidade documental, alternando-se, como na vida real, entre a beleza das descobertas e a banalidade da rotina. O problema é que essa distância emocional acaba cansando, entregando um resultado final que repele mais do que atrai. 

É interessante a escolha por inserir um narrador que lê os créditos iniciais, um artifício que já nos coloca sensorialmente alertas, conscientes de que estamos adentrando um mundo novo, com suas próprias regras visuais. A trilha eletrônica de Johann Johansson opta pelo convencional, utilizando generosamente as distorções para traduzir sonoramente o desconforto e a desorientação dos personagens, mas também apelando para as óbvias cordas na hora de expressar o amor entre eles. Perto das tentativas do diretor em confundir o público, trocando excessivamente as perspectivas, essa moldura sonora acaba deixando um gosto amargo de preguiça criativa. O interesse do diretor Lou Ye está no despertar dos impulsos sexuais desses profissionais, atuando como voyeur em seus conflitos amorosos, mostrados de maneira franca e sem nenhum verniz, podendo chocar aqueles que equivocadamente pensem que a perda de um sentido impossibilita a necessidade de exploração dos outros. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário