O Presidente (The President - 2014)
O início do filme, dirigido por Mohsen Makhmalbaf, já deixa
claro o tom de parábola, com o presidente de uma nação despótica sem nome,
vivido por Misha Gomiashvili, sendo apresentado como uma caricatura capaz de
assinar a permissão para diversas execuções, momentos antes de se juntar ao
neto pequeno e inconsequentemente entretê-lo ordenando o ligar e desligar das
luzes da cidade, traduzindo sem nenhuma sutileza o absurdo da imoralidade de um
poder supremo. Quando é necessário que ele fuja, num toque esperto do roteiro,
não são suas várias medalhas militares que o ajudam, mas seus talentos
musicais. Mas, em outras cenas, o texto recorre ao melodrama desgastado, com o
ponto mais baixo simbolizado por uma desnecessária subtrama envolvendo um
prisioneiro que retorna para encontrar sua amada com outro.
O roteiro, escrito em parceria com a esposa Marzieh
Meshkini, conduz o presidente, sempre acompanhado de seu neto, símbolo da
pureza que ele abandonou ao optar pela ganância, a uma jornada onde terá que
encarar incógnito os cidadãos oprimidos, vivenciando na pele o mal que causou.
É interessante a forma como a trama, com óbvias referências ao “A Vida é Bela”,
de Benigni, desenvolve a relação entre avô e neto, mostrando o ditador sendo
questionado com contundência pelo pequeno; dúvidas que não soariam genuínas em
uma narrativa que não fosse essencialmente fabulesca. Sua contraparte infantil,
como uma flor de inocência, tentando romper o asfalto. Um road movie onde
vários estereótipos atravessam a estrada do protagonista, numa intensa
reavaliação de suas condutas pessoais. Uma alegoria que poderia ser mais
eficiente se optasse pela sutileza, mas que ganha pontos pela objetividade de
seu discurso, fazendo com que o projeto possa se tornar atraente no circuito
mainstream, com sua importante mensagem atingindo um público maior.
Massagem Cega (Tui Na - 2014)
O aspecto mais interessante do filme em seu primeiro ato é a
forma pouco sentimental com que o diretor aborda o tema, que nas mãos de
qualquer cineasta poderia se tornar pura demagogia. Qualidade que vai se
perdendo no segundo ato, quando o roteiro cede a algumas resoluções formulaicas
típicas de folhetins. A frieza de seu olhar e seu completo desinteresse em
satisfazer qualquer expectativa de seu público, elementos que poderiam
limitá-lo em qualquer outra narrativa acabam funcionando nessa proposta,
desmistificando o trabalho dessa instituição de massagistas cegos, deixando que
as relações entre os profissionais fluam com naturalidade documental,
alternando-se, como na vida real, entre a beleza das descobertas e a banalidade
da rotina. O problema é que essa distância emocional acaba cansando, entregando
um resultado final que repele mais do que atrai.
É interessante a escolha por inserir um narrador que lê os
créditos iniciais, um artifício que já nos coloca sensorialmente alertas,
conscientes de que estamos adentrando um mundo novo, com suas próprias regras
visuais. A trilha eletrônica de Johann Johansson opta pelo convencional,
utilizando generosamente as distorções para traduzir sonoramente o desconforto
e a desorientação dos personagens, mas também apelando para as óbvias cordas na
hora de expressar o amor entre eles. Perto das tentativas do diretor em
confundir o público, trocando excessivamente as perspectivas, essa moldura
sonora acaba deixando um gosto amargo de preguiça criativa. O interesse do
diretor Lou Ye está no despertar dos impulsos sexuais desses profissionais,
atuando como voyeur em seus conflitos amorosos, mostrados de maneira franca e
sem nenhum verniz, podendo chocar aqueles que equivocadamente pensem que a
perda de um sentido impossibilita a necessidade de exploração dos outros.
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