Dark Star (1974)
John Carpenter fez aniversário recentemente e eu devo
confessar um deslize, apesar de apreciar bastante o seu conjunto de obra, ainda
não havia dedicado um texto no blog para seus filmes. Já programei mais alguns,
mas decidi começar por aquele que considero o embrião que sintetiza sua atitude
como cineasta, o longa-metragem de estreia: “Dark Star”, realizado com baixíssimo
orçamento, nascido como despretensioso média-metragem de faculdade, idealizado
por Carpenter e seu colega Dan O’Bannon, que viria a ser reconhecido por “A
Volta dos Mortos-Vivos” e pelo roteiro de “Alien – O Oitavo Passageiro”, mas
que chamou a atenção do produtor Jack H. Harris, do clássico “A Bolha Assassina”,
que abriu a carteira, pediu refilmagens e a adição de material relevante para
que o trabalho fosse lançado na tela grande. É interessante refletir e ressaltar
a importância de profissionais como Harris em uma indústria séria, pessoas que
enxergam o talento desconhecido e investem no potencial. Quantos grandes
diretores a indústria brasileira de cinema perde diariamente? Quando iremos nos
profissionalizar?
Astronautas hippies a bordo da nave “Dark Star” executam a missão
de destruir planetas instáveis em sistemas marcados para futura colonização no
universo. O tédio, resposta debochada à lentidão do “2001” de Kubrick,
perceptível nos rostos e nas posturas dos cabeludos, não há glamour nas viagens
espaciais. O ambiente é minúsculo, apertado e bagunçado. Logo no início, o
comandante envia comunicado em vídeo avisando que um corte de verbas no
congresso impediu o transporte de um escudo antirradiação, mas a morte certa e
lenta não parece ser algo tão ruim para os rapazes. Eles já esqueceram até de
seus próprios nomes. Carpenter faz com a ficção científica o que “M.A.S.H.”, de
Robert Altman, fez anos antes com o gênero da guerra, o senso de humor cínico e
atrevido supera as óbvias limitações técnicas. A longa sequência no elevador,
por exemplo, que começa com o astronauta e sua vassoura perseguindo o
alienígena, uma simpática bola de praia com garras, já pode ser considerada uma
aula de construção de suspense e do uso inteligente do silêncio neste processo,
elementos que Carpenter refinaria em “Assalto à 13ª DP” e “Halloween”,
culminando na obra-prima “O Enigma de Outro Mundo”.
O desfecho é brilhante, o confronto intelectual com a bomba
filósofa, espécie de prima pobre do HAL 9000, que é induzida a compreender as
questões fenomenológicas, na esperança de que ela pense duas vezes antes de
explodir. Só que, ao humanizar a máquina, os astronautas cometeram um erro
banal, a consequência nunca poderia ser boa, o homem é o único animal capaz de
destruir o próprio meio ambiente em que vive.
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