quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

"Dark Star", de John Carpenter


Dark Star (1974)
John Carpenter fez aniversário recentemente e eu devo confessar um deslize, apesar de apreciar bastante o seu conjunto de obra, ainda não havia dedicado um texto no blog para seus filmes. Já programei mais alguns, mas decidi começar por aquele que considero o embrião que sintetiza sua atitude como cineasta, o longa-metragem de estreia: “Dark Star”, realizado com baixíssimo orçamento, nascido como despretensioso média-metragem de faculdade, idealizado por Carpenter e seu colega Dan O’Bannon, que viria a ser reconhecido por “A Volta dos Mortos-Vivos” e pelo roteiro de “Alien – O Oitavo Passageiro”, mas que chamou a atenção do produtor Jack H. Harris, do clássico “A Bolha Assassina”, que abriu a carteira, pediu refilmagens e a adição de material relevante para que o trabalho fosse lançado na tela grande. É interessante refletir e ressaltar a importância de profissionais como Harris em uma indústria séria, pessoas que enxergam o talento desconhecido e investem no potencial. Quantos grandes diretores a indústria brasileira de cinema perde diariamente? Quando iremos nos profissionalizar?

Astronautas hippies a bordo da nave “Dark Star” executam a missão de destruir planetas instáveis em sistemas marcados para futura colonização no universo. O tédio, resposta debochada à lentidão do “2001” de Kubrick, perceptível nos rostos e nas posturas dos cabeludos, não há glamour nas viagens espaciais. O ambiente é minúsculo, apertado e bagunçado. Logo no início, o comandante envia comunicado em vídeo avisando que um corte de verbas no congresso impediu o transporte de um escudo antirradiação, mas a morte certa e lenta não parece ser algo tão ruim para os rapazes. Eles já esqueceram até de seus próprios nomes. Carpenter faz com a ficção científica o que “M.A.S.H.”, de Robert Altman, fez anos antes com o gênero da guerra, o senso de humor cínico e atrevido supera as óbvias limitações técnicas. A longa sequência no elevador, por exemplo, que começa com o astronauta e sua vassoura perseguindo o alienígena, uma simpática bola de praia com garras, já pode ser considerada uma aula de construção de suspense e do uso inteligente do silêncio neste processo, elementos que Carpenter refinaria em “Assalto à 13ª DP” e “Halloween”, culminando na obra-prima “O Enigma de Outro Mundo”.

O desfecho é brilhante, o confronto intelectual com a bomba filósofa, espécie de prima pobre do HAL 9000, que é induzida a compreender as questões fenomenológicas, na esperança de que ela pense duas vezes antes de explodir. Só que, ao humanizar a máquina, os astronautas cometeram um erro banal, a consequência nunca poderia ser boa, o homem é o único animal capaz de destruir o próprio meio ambiente em que vive.

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