Os Cosmonautas (1962)
Havia por parte da crítica um conceito torto de que as
chanchadas da Herbert Richers eram primas pobres daquelas produzidas pela
Atlântida, preconceito tolo e, acima de tudo, equivocado, já que nos dois
estúdios era perceptível o esmero técnico e, na maioria das obras, um corajoso
tom crítico que se fazia eficiente exatamente por estar inserido em tramas
simples, sem floreios intelectuais pretensiosos. É o que acontece neste projeto escrito e dirigido por Victor Lima.
O professor Inacius Isidorius (Álvaro Aguiar) acaba de
lançar com sucesso um de seus foguetes e de colocar em órbita em torno da Terra
uma cápsula tripulada por um símio. Agora ele se prepara para a sua maior
proeza: enviar dois homens à Lua, antes que os americanos ou os russos cheguem
a este nosso satélite. Há, no entanto, um problema: ainda não foram encontrados
os dois cosmonautas. O professor decide então enviar Zenóbio (Grande Otelo),
para encontrar com a máxima urgência os cosmonautas, que deverão ser duas
pessoas completamente inúteis e desnecessárias. O Cabo Canaveral se torna Cabo
Carnaval, o FBI se torna Fiscalização Brasileira de Investigações, quando Gagarino
(Ronald Golias) vê uma placa com os dizeres: “Alavanca de Lançamento de
Foguetes”, ele fica feliz: “Foguetes? São João? Sou louco por foguetório”,
depois opera pueril troça ao afirmar ser vendedor de “inspirador” de pó, tudo
muito puro e encantador, mas o roteiro também dedica espaço à gracejos mais
ousados, como estabelecer que o esconderijo para os criminosos seja uma organização
religiosa, ou mostrar o deputado como um tonto que só pensa em assediar a cientista
bonita e elaborar estratégias que envolvam propina.
“Lança perfume de rabo quente.” (Golias ao se referir ao
foguete)
Outro momento brilhante joga com os estereótipos de Rússia e
Cuba, o representante do primeiro sendo mostrado com uma garrafa de vodka na
mesa, o segundo, Fidel genérico, com alguém sendo fuzilado ao fundo. Após a resolução
do problema espacial, vale destacar a reação de decepção do político ao
descobrir que as Nações Unidas aceitaram acabar com o mercado de armas, o valor
outrora destinado às guerras agora será utilizado em melhorias para o povo. Foi
necessária a intervenção de uma linda alienígena (Neide Aparecida) para elaborar
um plano para salvar a raça humana de sua extinção causada pelo instinto da
guerra.
“Obrigado, Cosmonautas! Teremos estradas!” (manchete do dia)
Outro ponto que vale salientar é que “Os Cosmonautas”, ao
lado do excelente “O Quinto Poder”, de Alberto Pieralisi, lançado no mesmo ano,
foi um dos primeiros esforços da indústria nacional na ficção-científica,
utilizando elementos do gênero em tom cômico, lançado logo após a primeira
viagem do homem ao espaço. O discurso pacifista traz ecos de “O Dia em que a
Terra Parou”, de Robert Wise. Quando tudo parecia resolvido, o clássico “happy
ending” hollywoodiano, o roteiro subverte a expectativa e finaliza a obra com
uma sequência amarga. A alienígena se decepciona profundamente ao escutar na
rádio que todas as nações voltaram atrás em seus esforços de oposição à guerra.
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