A Incrível Verdade (The Unbelievable Truth – 1989)
Também conhecido no Brasil pelo título “Uma Relação Muito
Perigosa”, a trama do filme de estreia de Hal Hartley aborda a jornada de um
mecânico, vivido por Robert John Burke, que conclui uma pena de prisão por
acusações de homicídio culposo e retorna à sua cidade natal para reiniciar sua
vida. O passado o persegue, o seu relacionamento com a jovem filha do patrão,
vivida por Adrienne Shelly, que enfrenta o fim de sua adolescência e o medo de amadurecer
(simbolizado na bizarra fixação dela pelo holocausto nuclear), parece ser a única coisa
capaz de humanizar sua figura trágica, sempre vestido de preto. O problema é
que ele a rejeita, obstinado como um ronin honrado que se desassocia
conscientemente da realidade como forma de autopunição.
Há uma aura surrealista que remete aos trabalhos iniciais de David Lynch, com o mesmo senso de humor peculiar, como na sequência ambientada em uma lanchonete, o diálogo que é repetido em loop várias vezes, transformando as palavras em melodia banal, evidenciando o vazio dos frustrantes rituais cotidianos. Muitos salientam a inspiração óbvia de Godard na estrutura caótica que se diverte subvertendo as convenções narrativas e cinematográficas, mas é importante deixar claro que Hartley, já em seu primeiro arroubo criativo, demonstra tremenda segurança e inegável personalidade, não é uma cópia reverente ou disfarçada como os projetos de muitos cineastas celebrados, até mesmo no nosso Cinema Novo.
É uma obra crua, sem o refinamento que o diretor já traria no filme seguinte, e, exatamente por isto, pela coerência com a proposta executada com baixíssimo orçamento e sem concessões mercadológicas, eu considero uma das pérolas mais interessantes da década de oitenta.
Há uma aura surrealista que remete aos trabalhos iniciais de David Lynch, com o mesmo senso de humor peculiar, como na sequência ambientada em uma lanchonete, o diálogo que é repetido em loop várias vezes, transformando as palavras em melodia banal, evidenciando o vazio dos frustrantes rituais cotidianos. Muitos salientam a inspiração óbvia de Godard na estrutura caótica que se diverte subvertendo as convenções narrativas e cinematográficas, mas é importante deixar claro que Hartley, já em seu primeiro arroubo criativo, demonstra tremenda segurança e inegável personalidade, não é uma cópia reverente ou disfarçada como os projetos de muitos cineastas celebrados, até mesmo no nosso Cinema Novo.
É uma obra crua, sem o refinamento que o diretor já traria no filme seguinte, e, exatamente por isto, pela coerência com a proposta executada com baixíssimo orçamento e sem concessões mercadológicas, eu considero uma das pérolas mais interessantes da década de oitenta.
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